FHC mostra o que está por trás de Serra
O segundo turno é um bom momento para uma definição clara dos segmentos políticos. Para o lado de Dilma convergiram os setores mais progressistas da sociedade, como artistas, intelectuais, religiosos preocupados com a melhoria de vida do povo e ambientalistas sérios. Serra recebeu apoio de quem já vinha mesmo se inclinando para a direita, como o derrotado candidato a governador do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira, e passou a exibir um orgulhoso Fernando Henrique Cardoso, que finalmente pode mostrar a cara. Enquanto isso, Marina Silva, lamentavelmente, ficou em cima do muro. A ex-petista corre o sério risco de se tornar um futuro Gabeira. Sem ligação orgânica com partidos, achando que existe por si só e minguando a cada eleição.
Poderia se dizer que o realinhamento das forças políticas neste segundo turno criou um bloco de centro-esquerda em torno de Dilma e outro bloco de centro-direita, de apoio a Serra. Um fenômeno interessante está sendo observado. O eleitorado de Serra, quieto no primeiro turno, deu as caras agora. Principalmente nas áreas ricas dos grandes centros é possível ver faixas, adesivos em carros e manifestações pró-candidato tucano. O mais sintomático foi a reaparição de Fernando Henrique Cardoso, confirmando que Serra está aí para levar adiante o seu projeto incompleto.
É por isso que o candidato tucano não pode se queixar da volta ao debate do tema das privatizações. Como ministro do Planejamento de FHC, Serra foi o encarregado de acelerar o programa de privatizações e o fez com satisfação. Não só trabalhando para viabilizar a venda de estatais estratégicas, como a Vale do Rio Doce e as elétricas, como empunhando pessoalmente o martelo dos leilões para consagrar o repasse à iniciativa privada de empresas como a Light e a Escelsa.
Acredito que não exista hoje um clima propício a uma privatização da Petrobras, como a tentada pelos tucanos, quando chegaram até a mudar o nome da petrolífera brasileira para Petrobrax, mas o grande risco estaria na mudança de abordagem da exploração do pré-sal. Lula alterou o modelo de exploração, iniciado pelo governo FHC, introduzindo o sistema de partilha, que garante ao governo uma participação maior no negócio. Além disso, criou um fundo social que destinará parte dos recursos oriundos do pré-sal para educação, combate à pobreza, ciência e tecnologia, cultura e meio ambiente.
É essa mudança que está verdadeiramente em risco. O responsável pela área energética da campanha de Serra, David Zylbersztajn, defende o retorno ao modelo de concessão nos blocos do pré-sal e a redução do papel da Petrobras, que pelo novo marco regulatório tem participação mínima assegurada de 30% na áreas a serem licitadas. Zylbersztajn alega que essa obrigatoriedade é um risco e que seria "ruim para o Brasil" ficar preso à capacidade de investimento da Petrobras. O assessor de Serra foi mais além, externando a visão tucana sobre o setor e o papel da Petrobras, ao afirmar que "não tem que existir estatal comprando ou vendendo petróleo."
Serra percebeu o peso da declaração do assessor e procurou minimizá-la dizendo que se tratava apenas da opinião de um técnico. Mas Zylbersztajn é muito mais que um técnico. Ex-genro de Fernando Henrique Cardoso, foi o principal diretor da Agência Nacional do Petróleo no processo de quebra do monopólio da Petrobras e na licitação de áreas de exploração e produção no país. Zylbersztajn sempre defendeu um tamanho menor da Petrobras para fortalecer a concorrência na exploração de petróleo no país. Sua visão certamente é compartilhada por Serra, que continua escondendo suas verdadeiras intenções.
A vinda de FHC a público ajuda a compreender mais os interesses por trás da campanha de Serra. Expoente do neoliberalismo nos anos 90, o ex-presidente acredita que a redução do tamanho do Estado é o caminho da eficiência e por isso ficou escondido durante todo o primeiro turno, já que o sucesso do governo Lula, aprovado por 80% dos brasileiros, se assentou em princípios opostos.
A volta de FHC é o sinal mais claro de que os velhos princípios neoliberais são representados por Serra. Por um momento, pareceu que o candidato tucano assumiria isso sem problemas no segundo turno. Mas Serra continua sendo um camaleão, que fala em ética e princípios o tempo todo, enquanto acoberta as ações mais espúrias e retrógradas de uma campanha eleitoral, que prosseguem de forma acintosa e ofensiva aos eleitores brasileiros.
PS. A foto mostra José Serra batendo o martelo na privatização da Light.
13 Comentários recebidos
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- Sobre o autor deste artigoMair Pena NetoJornalista carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de economia.Fale com o autorFeed deste autor
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Em 20/10/2010, hudson escreveu:
Entendo que as privatizações não foram prejudiciais ao país, já que geraram milhares de empregos, fazendo com que as empresas paguem mais impostos e melhorando o nivel de vida da sociedade. Vide o caso da Vale, antes valia U$5bi hoje vale mais de U$200 bi, tripliclou o valor de investimentos anuais, emprega um numero muito maior de funcionarios.
Em 20/10/2010, Marcelo Onofre escreveu:
Quanta bobagem. Desde quando Serra e FHC são de direita? E desde quando, Collor, Sarney, Barbalho e etc. são de esquerda. Como diz o Lula: menas, menas...cumpanhero!
Em 20/10/2010, Marcio Bairão escreveu:
Não sei quem escreveu a matéria acima, mas acho que a pessoa distorce profundamente a realidade! Um materia inpregnada de ideologia velha e carcomida. Quando fala das privatizações esquece de dizer que todas, literalmente todas, foram um grande sucesso para a população com a enorme melhoria dos serviços prestados: 190 milhões de celulares, 50 milhões de linhas fixas, patamares que jamais teriam sido alcançados se estivessem estas empresa ainda nas mãos do governo. E a Vale? Quintuplicou seu faturaramento e hoje paga em impostos quase o que faturava!!! E a EMBRAER? que se tornou a 3.a maior empresa do mundo?? Traz divisas para o nosso país! E por aí vai! Olha me diga o seguinte: o que o Chico Buarque entende de economia? Para com isto. Chico é um grande artista, mas isto não lhe dá aval de ser um grande entendido na área economica. E para finalizar o FHC fez o plano real que na verdade foi um enorme programa economico progressista que reduziu a inflação que tirava renda dos pobres!!!
Em 20/10/2010, Nayala Maia escreveu:
Caro Jornalista como petista que é, nada mais "lógico" você fazer esse terrorismo eleitoral.
Em 20/10/2010, NELSON NISENBAUM escreveu:
Privatização só atende aos interesses de quem virou dono. O que pode ter de bom em um processo que levou a um tarifaço sem precedentes, que levou a lucros sem precedentes, originados com investimentos sem precedentes via BNDES, para gerar lucro para espanhóis, italianos, portugueses, americanos... Amigos! Vamos com calma na estupidez...afinal, só a inteligência tem limite!
Em 20/10/2010, Edigar Mendel Sobreira escreveu:
Evidentemente que muitas privatizações trouxeram resultados. Isto é inegável. Mas, uma pergunta até hoje ninguem respondeu: onde foi aplicado o dinheiro arrecadado? Se a coisa é boa, como alguns afirmam, por que negar participação no processo e por que negar que novas privatizações podem ser feitas no futuro? Qual o problema? Por que esconder-se atrás da negação? Não têm convicção? Quem diz o que não pensa pode até não ser mentiroso mas é falso. Não assume suas convicções e poderá deixar quem vota nele no meio do caminho... coisa, aliás, que é comum perceber na biografia de alguns políticos que não cumprem seus mandatos completamente. Mas privatizar... bom ou ruim, foi feito. O que não podemos admitir é que algo bom que está sendo deixado pelo atual governo (mudança no sistema de partilha dos resultados da exploração do petróleo) seja abandonada e algo que poderemos utilizar a nosso favor seja entregue a multinacionais estrangeiras e nosso povo, a ver navios, literalmente.
Em 20/10/2010, Carlos Ferraz escreveu:
As empresas privatizadas estão fazendo sucesso porque?...Primeiro porque na compra os consórcios que se formaram tinham muitos laranjas infiltrados do governo que estava vendendo estas empresas a preço de banana e segundo porque eram empresas com um potencial enorme , no caso da Vale, que sendo bem administrada de maneira estatal por um governo que investisse e valorizasse a empresa, seria com certeza uma empresa que daria tanto quanto ou mais lucro do que está dando agora!!! Obs: Não esqueça que no auge da crise que foi marolinha, a Vale demitiu mais de 3000 empregados, acreditando na crise ( que é algo tão comum em governos tucano democratas ) afinal a especulação faz a burguesia feliz na bolsa de valores e acaba com o emprego no país. Lula deu um show em FHC , tanto que é reconhecido no mundo inteiro, menos na mídia conservadora e burguesia que não quer perder o osso e adora especulação. Um grande texto digno de ser retransmitido para outras pessoas, uma análise coerente e lúcida.
Em 20/10/2010, Sergio Cavalcante escreveu:
Sem comentarios.....esse cara deve ser um daqueles jurassicos que trabalham juntamente com a equipe do Celso Amorim...vc demonstrou que definitivamente, não sabe de nada, não ouviu nada....ah cuidados também para não perder um dos dedos.
Em 20/10/2010, Saint-Clair escreveu:
É realmente impressionante ver como o brasileiro "compra" qualquer idéia por mais estapafúrdia que seja. Vivem falando em 190 milhões de celulares e etc... Já olharam as tarifas? Um cartão telefônico custava R$ 0,60 na época da privataria. O que teriam feito as empresas do grupo Telebras se dispusessem desse rio de dinheiro? A Light, hoje, pede "apenas" 290 minutos de prazo para atender um chamado de falta de energia. São esses os grandes "benefícios" da privataria? Privatização gerou empregos? Só na Telerj foram milhares demitidos, substituidos por empresas terceirizadas, que prestam um péssimo serviço. A ordem é empurrar com a barriga e ir correndo ao próximo cliente, pois o faturamento é pelo número de atendimentos. Sim, grandes benefícios. Sim, temos muitos telefones. Só não conseguimos pagar as contas.
Em 20/10/2010, João H. Vieira escreveu:
Bom, inicialmente gostaria de corrigir o comentario do colega que diz que o FHC foi quem "fez" o plano Real. O FHC apenas implantou o plano Real, projeto que fora criado anteriormente por Itamar Franco. Quanto as eleições, pelo que tenho observado, a maioria dos eleitores nao pretende votar no candidato que tem a melhor proposta, e sim no candidado que em sua opinião, é o "menos pior". Ainda não possuo minha opinião formada mas creio que a proposta neo-liberal, no momento que vivemos hoje, não seria a melhor proposta para nosso desenvolvimento.
Em 20/10/2010, Marcia escreveu:
Huh? Desde qdo Serra e FHC foram da direita? E desde quando Collor, Sarney, Barbalho foram da esquerda? As privatizações só fazem bem ao país, empresas públicas são verdadeiros cabides de empregos. Que texto fracooooo!
Em 20/10/2010, Luis Hipolito @ The Blogger escreveu:
As privatizações realizadas no Brasil até o momento geraram mais benefícios do que malefícios. Pelo menos quando lembramos da Vale e da Telebrás. Contudo, não se pode discutir esse assunto com ingenuidade. O setor privado tem no lucro sua razão de existir e portanto jamais terá interesse em setores que não trazem resultados. O Estado será sempre o único provedor de milhões de pessoas através da previdência e dos benefícios sociais. As despesas do Estado, independentemente das receitas, sempre serão crescentes. Portanto, não tenham ilusões quanto a um Estado menor no futuro, como gostariam muitos que tem idéias "neoliberais".
Em 20/10/2010, Flaneur escreveu:
Olá. Queria dizer que Serra e FHC são de direita, sim. Nunca vi alguém contradizer isso. FHC foi de esquerda num passado bem longíquo. Hoje é DIREITA. Digo mais, a candidatura de Serra pode ser de centro direita, mas tem muita gente da EXTREMA DIREITA junto, como a organização TFP (Tradição Família e Propriedade) e RURALISTAS (do Dem), os mesmos que desmatam a Região Norte. Estas são informações de domínio público, qualquer um pode pesquisar e se informar. A privatização do metrô de SP garante que Estado (ou seja, você contribuinte) deve garantir o lucro da empresa, caso não atinja um patamar mínimo. O que acha? Põe a mão no teu bolso, tiram o teu R$, para pôr no bolso dos magnatas dos transportes. Eu não acho sensato, não. Por isso NÃO voto Serra.