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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

São Paulo: um projeto neoliberal em risco tambem no segundo turno


A campanha política brasileira entrou em sua reta final agora no segundo turno. Todos os partidos e candidatos se apresentam com propostas e projetos. Estado por Estado, região por região, o quadro político parece estar em processo de definição. Embora a grande mídia tudo faça para favorecer o candidato do PSDB, as mais sérias indicações precisam a provável vitória de Dilma Rousseff, da aliança popular progressista -PT, PDT, PSB, PCdoB.  É um cenário completamente em desacordo com os desejos da elite empresarial e oligárquica brasileira, como se pode ver pela simples leitura dos grandes jornais e revistas, que, seguindo o roteiro traçado desde Washington, porfiam por um outro resultado.
Um quadro que tem até determinado o aparecimento de grupelhos fascistóides em São Paulo, ora usando a sigla MMDC, ora através de um grupo de universitários ("São Paulo para os paulistas"). Numa evidente comprovação de que a quebra do processo democrático faz parte de seus objetivos, caso as urnas lhes sejam desfavoráveis. Para esses grupos, nacionais e estrangeiros, pouco importa se os seus planos redundarem na ruptura democrática do país. O que importa, a exemplo de Honduras e de todos os golpes de Estado propiciados pelo establishment estadounidense, é que haja a preservação e até o aumento de seus interesses na região ou no país.
Dentre os Estados brasileiros mais importantes, há um cujas características o colocam como fundamental, não para decidir o processo eleitoral, mas, para garantir o equilíbrio político-econômico federativo sem os óbices que existem até hoje. É o Estado de São Paulo. Um Estado rico, populoso, com a maior capacidade industrial instalada do país, mas, que, hoje em dia, por força de sua própria ação e dos efeitos da crise no seio dos países capitalistas mais desenvolvidos, está a sofrer os primeiros sinais de decadência.
Para o Brasil, como um conjunto federativo, São Paulo precisa ser rápido e celeremente integrado. O país precisa de suas estruturas universitárias e tecnológicas, de sua experiência produtiva e até mesmo do aprendizado com seus erros, para formar um Banco de Idéias, de Experiências e de Futuro, como base para um novo modelo desenvolvimentista. Um modelo em que as ilusões liberais ou neoliberais sejam abandonadas em prol de um visão integrada de crescimento de país e latinoamericana.
O século XX, com suas manifestações econômicas, culturais e artísticas, passa a ser sinônimo de progresso. Um progresso que é medido não pelo ordenado crescimento econômico de todos os paulistas, mas, principalmente, pela riqueza acumulada e em vias de mais acúmulo. Eram os sinais do capitalismo que a iria dominar e determinar o pensar paulistano, ora pelo apelo à uma estética urbana européia, ora pela adoção da desordem vertical estadounidense. Enfim, havia a fantasia de que naquele cadinho de gente estava se construindo um país, não um simples Estado da federação.
Na década de 20, a industrialização ganha impulso, a cidade cresce e o café sofre uma grande crise, o Crack de 29, que não só iria depreciar essa riqueza paulista, como provocaria a quebra de alguns grupos financeiros. Um quadro negativo para àquelas famílias que quebraram, porém uma oportunidade para o enriquecimento de outras famílias e grupos econômico-financeiros externos.
No entanto, para comprovar que sempre há o novo em qualquer tipo de processo, é no bojo da oligarquia paulista vai surgir o político que, representando a transição entre o getulismo e o antigetulismo, terá grande força e liderança no Estado de São Paulo: Ademar de Barros. Com ele a política da elite paulista ganha um temporário aliado, pois, em termos de classe, seus interesses estavam entre os anseios de uma frágil burguesia nacionalista que ousava ser poder no seio do capital industrial e financeiro oligopolista internacional e entre os acenos de prosperidade material para a baixa pequena-burguesia e segmentos do proletariado.
Entretanto, como a sua força crescia e parecia ultrapassar os limites do Vale do Anhangabaú, logo passou a ser hostilizado, dentro e fora dos sistema oficial de poder. Um quadro que teria o interregno de 1945/64. De fato, durante todo o período de 1945 a 1964, o sistema político brasileiro foi dominado por um conjunto de partidos de expressão nacional que não tinham maiores raízes em São Paulo - o PSD, o PTB e a UDN. Assim quando Jânio Quadros encabeça uma eleição vitoriosa, ao marcar o inicio do fim do pluri-partidarismo estabelecido em 1945, surge o sonho de uma liderança de massas, juntamente com uma concepção de poder centralizado no crescimento econômico do Estado e em certa visão modernizadora do Estado brasileiro, ainda que alegremente atrelado aos objetivos do capital internacional como iria defender FHC tempos depois.
É com Jânio Quadros que irá surgir a maior liderança política de São Paulo e um dos maiores fenômenos políticos do país - vereador, deputado estadual, Prefeito de São Paulo, Governador e Presidente da República - uma sequência vitoriosa initerrupta e marcada por um discurso moralista e de grande efeito retórico. Para a elite paulista e paulistana, o matogrossense era um enigma, pois, embora significase a destruição daquilo que eles consideravam nocivo, que era a ascenção política das massas, de certa maneira, mesmo em sua forma hiperbólica e gongórica de se expressar, em Jânio havia a raíz de um novo processo. Um processo em que se mesclavam pedaços de nacionalismo e de aumento da soberania nacional, a necessidade de uma nova "abertura dos portos" e de um novo tipo de alinhamento político internacional, com pitadas do mais puro reacionarismo e preconceitos pequeno-burgueses.Tudo indica que Jânio, um típico produto do capitalismo transitivo entre a Europa e os Estados Unidos, por força das grandes guerras que alteraram o eixo do sistema, sentiu a força dos ventos descolonizantes antiimperialistas que assolavam o mundo naquela época. É importante notar que São Paulo viverá grande parte de sua história sob o sedutor acalanto do poderio econômico e de um especialíssimo destino nacional, em que, como uma vez disse André Gunder-Frank, São Paulo acredita que ele determina os rumos do país, apenas porque reproduz com as demais regiões brasileiras o mesmo relacionamento econômico que o imperialismo tem para com o Brasil. E é, pois, dessa matriz ideológica que a política paulista vai se nutrir e ficar quase que marginalizada dos processos políticos decisórios.
Assim, operando nesse hiato de poder e na esteira dos carismáticos e populares exemplos de Jânio Quadros e Ademar de Barros, surgem os seus seguidores e imitadores. Só que, segundo estudos dos professores Adriano Duarte e Paulo Fontes Clique aqui), o quadro político dividido entre o ademarismo e o janismo não tinha a simplicidade das políticas clientelistas clássicas. Num certo sentido estava inserto no mesmo quadro que se desenvolvia no mundo e em particular na América Latina e isso significava o fortalecimento do Welfare State, algo de difícil aceitação pelo novo poder imperialista surgido como resultante da Segunda Guerra Mundial.
Com o Golpe de 1964, que realiza uma autêntica razzia contra tudo aquilo que pudesse representar uma ligação com o que acreditavam estar superando, há um fenômeno bem singular, que é a montagem de uma estrutura política que se via por e a partir de São Paulo. De início a ditadura chega até a se sentir incomodada com esses arroubos "autonomistas", Porém, com o passar do tempo e com o maciço envolvimento de todo o parque industrial na consolidação de um tipo específico de política, logo há a confluência de objetivos. Objetivos que, em síntese, significavam a transferência das principais bases econômicas e financeiras nacionais para o poder das empresas multinacionais.
Nesse quadro, mais do que antes, era necessária a construção de um poder político regional tão forte que até pudesse se contrapor ao poder central. Como a ditadura fez questão de bipartidarizar a vida política, não porque desejasse simplificar o direito de opção dos brasileiros, mas, por precisar de alternativas à direita e até à esquerda, alguns políticos, cuja origem remonta aos anos dourados do janismo e do ademarismo, são logo guindados à posição de protagonismo, até porque defender a democracia como um fim em si mesmo era positivo e garantia popularidade.
É, pois, nesse período que surgem os políticos que irão fazer desenho final do que hoje existe. Franco Montoro, Plínio de Arruda Sampaio, Paulo de Tarso, por exemplo, são ramos do janismo decmocrata cristão. Mário Covas, é uma versão reciclada do janismo com tintas sociais e um pseudo endeusamento do que seja avanço técnico e científico em termos de administração e política. Se analisarmos a essência do pensamento político de Mário Covas, em que pese a sua formidável retórica sobre democracia, veremos que foi o que o sistema queria que fosse - a supremacia de tecnologia sobre o ser humano - tanto que o seu poderoso avanço político é concomitante à expansão neoliberal e às alianças que fará com setores acadêmicos cooptados para aquelas teses do "Consenso de Washington".
FHC, Alckmim e José Serra, por mais que se esforcem em ter algum protagonismo, foram e são meros coadjuvantes. Com Mário Covas, que unia à tintura intelectual um fantástico poder  oratório, mais o forte apoio que a economia neoliberal lhe fornecia, através da concentração financeira em São Paulo, foi possível garantir a lógica  dourada redoma paulista como base ideológica e de ação política até hoje. Desse modo, como o neoliberalismo é quase que a segunda natureza do paulistano e paulista, qualquer luta para alterar esse quadro político, antes de mais nada, necessita ter um só lema - trazer os paulistas e paulistanos para o convívio do país.
Contribuição do ouvinte da XFM Pedro Ayres
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