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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A liberdade inaceitável

Desde que me dispus a escrever aqui no DR, em resposta ao honroso convite do Eliakim, também me impus uma regra de comportamento: jamais contraditar os comentários feitos a propósito dos meus textos, por mais agressivos que às vezes aqueles se revelem. Aprendi isso com minha mãe e seus ditados colhidos da boca do povo: quem diz o que quer corre o risco de ouvir o que não quer... E isso nunca foi tão verdadeiro como quando o que se diz e o que se ouve envolve a matéria politica ou a religiosa, por exemplo.
Assim, considero que, tendo exercitado levremente a produção de um texto de opinião, e lançando-o à divulgação, ele não mais me pertencerá com exclusividade, podendo e devendo, a partir daí, sem a minha participação, merecer reparos, aditamentos, contestações, reprimendas e tudo mais que é autorizado pelo livre direito de expressar o pensamento.
Esse respeito à opinião alheia, um princípio da alteridade e um pilar do intercâmbio democrático, só não deve prevalecer quando o contraditório  abusa do requinte da selvageria e da perversidade, com preconceitos e discriminações que, em nome da dignidade humana, não podem passar em branco. E aí, desculpem-me os defensores da liberdade absoluta, nem é caso de diálogo: é preciso reprimir esses pensamentos, denunciá-los como insanos e aviltantes e condená-los ao silêncio.
Essas considerações vêm a propósito de algo que não aconteceu aqui no DR – é verdade que houve umas tentativas que passaram “de raspão” por essa postura - , mas que andou movimentando sites, blogs e twitters na internet: as declarações  feitas sobre os nordestinos e sua desvalorização enquanto pessoas, tidos como dispensáveis no concerto nacional, considerados como menos brasileiros e, pior, como menos humanos. Tudo porque o Nordeste está sendo “responsabilizado” pela vitória da Dilma, o que, aliás, não corresponde matematicamente á verdade, já que ela também venceu no Sudeste.
Há quem diga que a maior resposta para tais afirmações é ignorá-las. Eu discordo. É preciso execrá-las!  Elas representam  a liberdade inaceitável, a barbárie do pensamento !      
Somos um país uno em sua formidável diversidade. Um país plural em suas manifestaçôes culturais. Um país miscigenado etnica e culturalmente. E essa é a nossa grande força. a grande arma – ao contrário do que pensam os arautos da discriminação – para que venhamos a ocupar, em futuro bem próximo, lugar de grande destaque no conjunto das nações, como resultado dessa vocação para a comunhão, para o diálogo, para a integração.
A eventual maior “riqueza” ou o suposto maior “progresso” do Sul e do Sudeste não pode funcionar como juízo de valor para conferir-lhes uma posição de maior “brasilidade” em relação às demais regiões.  Em  primeiro lugar,  porque os nordestinos, ao longo do tempo, foram e continuam sendo artífices importantes no crescimento do Sudeste. Em segundo lugar, porque talvez seja de lá que venha, majoritariamente,  esse sentimento de cordialidade, de confraria, de alegria e bondade que dão o tom do verdadeiro Brasil. Seríamos um país muito pouco brasileiro se nos limitássemos a ser apenas um grande São Paulo...
Quando uma estagiária de direito paulistana, em frase que circula na internet, declarou que “nordestino não é gente” e conclamou que se devia “fazer um favor a São Paulo e matar um nordestino afogado”, no que foi secundada no twitter por muitos fascitoides iguais  a ela, isso não pode ser visto como “livre exercício da expressão do pensamento”, mas como perigosa e atentatória manifestação de intolerância e apologia do crime.
O legado cultural nordestino ao Brasil passa por vários âmbitos, está em todos os níveis.  Está em Gonçalves Dias, José de Alencar, Castro Alves, Graciliano Ramos, José Lins do Rego,  Jorge Amado, Rachel de Queirós,  Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, Jorge de Lima, Ferreira Gullar, Gilberto Freyre, Câmara Cascudo, alguns que me vêm à mente  em meio a uma plêiade de artistas da palavra.
Está no Cego Aderaldo, em Patativa do Assaré, em Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Djavan, Raul Seixas, Fagner, Dorival Caymmi, Caetano, Gal, Gil e Betânia, em Jackson do Pandeiro, Elba e Zé Ramalho, alguns dos ícones nordestinos de nosso cancioneiro popular. Está no Mestre Vitalino, em Cícero Dias, Antônio Bandeira, Vicente do Rego Monteiro, Mário Nunes , João Câmara e tantos outros consagrados artistas plásticos. Espalha-se da excelência acadêmica de um  Anísio Teixeira, um Paulo Freire ou  um Celso Furtado à  genialidade intuitiva de um Dida, um Vavá, um Almir, um Bebeto, um Canhoteiro, um Dequinha, um Rivaldo, um Zózimo, um Zagallo, um Juninho e  tantos outros magos do nosso orgulho no futebol (aqui, posso ser ajudado pela enciclopédia, que é o Roberto Porto...)
Mas tal legado  está, principalmente, nos irmãos nordestinos como um todo, que, embora sofredores das iniquidades e desigualdades sociais, constituem  essa massa anônima  trabalhadora que ajuda a construir  nosso novo país, um país que não sofrerá retrocesso depois de Lula – esse também um nordestino que revolucionou a prática política no país -, e em cujo caminho rumo ao progresso não haverá lugar , no futuro, para os pensamentos perversos, retrógrados, divisionistas e antipatrióticos como os formulados por essa infeliz turma twiteira.   Sobre o autor deste artigo Rodolpho Motta Lima  Advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil
Comentarios 

9 Comentários recebidos

    • Em 10/11/2010, Maria Cristina Teixeira Pupo escreveu:

      Finalmente alguem disse alguma coisa a respeito desse absurdo. Fiquei péssima quando li tal artigo, de uma pessoa instruida, não quis nem acreditar. Mas na internet é assim, coisas boas, como seu artigo e coisas inomináveis aparecem e fazem bem ou mal. É uma questão de quem ler ter critério.

    • Em 10/11/2010, Laís Legg da Silveira Rodrigues escreveu:

      Associo-me ao colunista e sinto pena da jovem que escreveu tamanha barbaridade. Sendo ela uma acadêmica de Direito, o que podemos esperar da profissional que um dia será? Que tipo de educação recebeu em casa? O que dizem seus pais ao saberem do fato? Realmente, estamos diante da falência dos bons modos, da educação, do respeito ao próximo, da caridade e do amor. Sempre que leio os comentários das notícias da internet, já me salta aos olhos o mau português dos jovens de hoje. Logo em seguida, nota-se o veneno destilado no conteúdo, seja contra aqueles que torcem para times diferentes do seu, seja contra os argentinos ou até mesmo contra os compatriotas nordestinos. Na minha opinião, o que falta é punição severa, daquelas de doer no bolso, inclusive. Multas, trabalho obrigatório e retratação pública deveriam ser rotina para quem não aprendeu desde pequeno o comportamento adequado.

    • Em 10/11/2010, VALFRAN DOS ANJOS escreveu:

      MAYARA PETRUSO - Xenófaba ou vítima? A cultura do Big Brother (paredão e eliminação) se enraizou no inconsciente de setores da sociedade e vem produzindo estragos no seio de nossas famílias (filho mata pai, marido mata mulher, Bruno, Eliza etc.), de nossas relações sociais e até religiosas, onde alguns bispos e alguns padres pregam a eliminação de pessoas ligadas ao PT. Contaminada por essa cultura malsã, a jovem acadêmica de direito, MAYARA PETRUSO, twitou. Pela infeliz twitagem, a OAB/PE ingressou com uma representação criminal contra a Mayara, só contra ela! Só contra quem bebeu o veneno! Enquanto isso, o Bial continua selecionando o elenco do próximo Big Brother. Enquanto isso, os mesmos bispos e os mesmos padres continuam colocando no "paredão" o que eles chamam de "raça de petistas". E eu, que sou brasileiro, nordestino, católico e petista..., compreendo a Mayara por entender que ela é apenas uma vítima da cultura bigbrodista.

    • Em 10/11/2010, Xico Júnior escreveu:

      A imbecilidade propagada pela jovem universitária paulistana que, sem dúvida, merece uma resposta como reprimenda por incitar a segregação social e o crime, se me permitem, vem muito da influência subliminar praticada pela chamada grande mídia. E aí, pontificando, está a Rede Globo, já que as outras são "maria vai com a outra", sem personalidade e sem escrúpulos. E um exemplo que está no ar (vide blog "ESPAÇO GÓTICO" - basta digitar o título via Google) da mais explícita discriminação e incitação à deformidade e à suruba familiar, é o que chamam de novela "PASSIONE". Se houvessem "gringos italianos" raçudos, tal já deveria ter sido proibido via ação judicial pelo desrespeito aos italianos da Península e aos imigrantes, natos e descendentes, que tiveram papel de fundamental importância no desbravamento, no progresso e no crescimento dos mais diferentes segmentos produtivos, assim como os nordestinos, estes "raça" admirável por sobreviver ao descaso, à rejeição e à falta de sensibilidade.

    • Em 10/11/2010, mirtes moreira silva escreveu:

      Como paulistana, durante as eleições e mais agora, sinto-me envergonhada da postura de umas figuras que aqui nasceram e que, infelizmente, representam a personalidade tacanha e prepotente de uma parcela (pequena, quero crer) da população de São Paulo, que só pensa em si. Nâo conseguem entender que somos uma só nação e nenhum estado vale mais que o outro, que os frutos positivos do "desenvolvimento" paulista foram planatados pelas mãos dos nordestinos e que, ironicamente, estes compõem uma grande parte da população de SP, também. Quando me deparo com esse tipo de comportamento absurdo e tantos outros (geralmente vindos de alunos de Direito)fico a me perguntar, o que realmente se aprende nesse tipo de curso?! que faculdades são essas,que professores são esses, que alunos são esses, que pais são esses?

    • Em 10/11/2010, Laís Legg da Silveira Rodrigues escreveu:

      O que mais me preocupa neste nefasto episódio é que foi escrito por uma mulher. Nós, mulheres, somos diferenciadas, biologicamente falando, pois gestamos, parimos e produzimos o alimento de nossos filhos em nosso corpo. Quando é uma mulher (?), como esta acadêmica de Direito, que emite tal comentário, a coisa assusta. A mulher acolhe a prole (não todas, é claro), oferece o colo, o seio e a segurança. A mulher, sabidamente, não faria uma guerra e não mataria os filhos dos outros, pois ama os seus e sabe como seria perdê-los. Que espécie de criatura, então, é esta, que odeia os nordestinos? Que mal estes lhe fizeram? Acha-se ela superior?

    • Em 10/11/2010, Guy Joseph escreveu:

      Arre égua! Finalmente, uma resposta justa e correta, além de jogar água fria, nessa esquentada fascistinha. Esquece, que o povo nordestino é secularmente explorado por seus irmãos do sul/maravilha(?). O colunista esqueceu do maestro José Siqueira, Aldemir Martins e do genial Canhoto da Paraíba.

    • Em 10/11/2010, NELSON NISENBAUM escreveu:

      Humildemente registro meu apoio ao brilhante colunista.

    • Em 10/11/2010, Oscar Marcos Tibúrcio escreveu:

      Como sempre, Rodolpho Motta Lima, brilhante! Obrigado pelo belíssimo texto!





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