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domingo, 12 de junho de 2011

Um tiro pela culatra



O processo político é, muitas vezes, surpreendente, no seu desenvolvimento, em face do dinamismo que lhe é característico. Não é incomum que certas estratégias no campo da política, urdidas para atingir determinados objetivos, acabem por gerar resultados diferentes dos previstos pelos estrategistas e até mesmo contrários aos seus objetivos.


Com o desfecho do “caso-Palocci”, desconfio muito que o tiro possa ter saído pela culatra. As oposições, que acabaram de perder as eleições presidenciais, mas que andam permanentemente buscando um terceiro turno e catam cirurgicamente episódios que desarticulem o governo, fizeram o carnaval de sempre. Alguns dirão que elas cumpriram seu papel. Em coluna anterior, antecipei minha posição de que o ex-Ministro deveria mesmo afastar-se do governo Dilma, porque, como ele próprio reconheceu, as verdades jurídicas nem sempre são aceitáveis no campo político. Mas isso não me impede de ver nesse metralhar constante dos setores oposicionistas uma tentativa de desestabilizar a Presidenta e inibir os seus projetos. É bem evidente a permanente campanha que, muitas vezes em tom de “fofoca”, tenta descobrir atritos e controvérsias no seio do governo e, o que é pior, parece justificar situações como “a insatisfação do PMDB por não ter sido consultado” e coisas do gênero.

A nomeação da Senadora Gleisi Hoffmann para o lugar do demissionário Palocci pode vir a constituir, em futuro não muito remoto, um auspicioso fato político em meio ao que a mídia – destilando o veneno de sempre - acentuou como “crise”. A Senadora é sangue novo nas hostes do governo, pelo menos em termos de visibilidade e, a julgar pelo seu histórico anterior e pelo seu comportamento no Senado, pode vir a ser, por força de suas características de obstinação, determinação e eficiência em atividades de gestão, um reforço de grande valia no âmbito do Planalto.

Não tenho muita certeza dessa “perda significativa” ou desse “enfraquecimento do governo” que o partido midiático de oposição (aquele que faz política partidária sem assumir os riscos a isso inerentes) atribui à saída do Palocci. Pessoalmente, já o disse aqui muitas vezes, não creio que uma pessoa, qualquer que seja, se sobreponha a um projeto. De qualquer forma, se é verdade que Palocci é um bom articulador e tem idéias criativas, não se iludam os que pensam que essa articulação ou essa criatividade deixa de existir, por encanto, pela não ocupação de um cargo ministerial.

Os cronistas da política apontam a Senadora ora empossada como até mais identificada com o PT, partido da Presidenta, do que o próprio Palocci, que não gozava da unanimidade petista e, pelo contrário, era visto com reservas, por certas teses que pareciam aproximá-lo da oposição.

Vez por outra, tive oportunidade de assistir, na TV Senado, a alguns debates entre os atuais componentes daquela casa congressual. Impressionou-me sempre o permanente tom categórico e incisivo com que a Senadora Gleisi não deixava passar qualquer análise crítica de seus opositores, “cobras criadas” da política, sempre rebatendo, ponto por ponto – com conhecimento de causa e argumentação consistente - , as sistemáticas, furiosas e apocalípticas teses dos tucanos e “democratas” (as aspas aqui são obrigatórias), alguns quase vitalícios naquela casa legislativa.

A mídia de oposição , mais do que fazer oposição, quer a derrocada dos programas do governo que acabou de ser eleito. A orquestração é toda nesse sentido e é uma tristeza constatar que jornalistas, maiores ou menores em expressividade, claramente, submetem-se à velha máxima do “manda quem pode e obedece quem precisa (ou quem tem juízo)”, repetindo, monocordiamente, comportamentos quase golpistas inspirados na linha ideológica dos seus patrões e desprezando qualquer compromisso com o futuro do país. A palavra de ordem parece ser no sentido de não dar um segundo de tranquilidade ao governo, não permitir de modo algum que os projetos populares ganhem dimensão, não dar espaço às conquistas do povo e, assim, desconsiderar a recentíssima manifestação popular que colocou Dilma na Presidência da República.

Acho que, pelas virtudes pessoais da nova Ministra, a presença de Gleisi na Casa Civil, articulando as ligações entre os diversos níveis governamentais e tocando os projetos populares que Dilma afirma que não interromperá – o principal deles parece ser a erradicação da miséria entre nós - , pode , no final, acabar por trazer grandes dividendos para o Governo. Pode ser que venha a mostrar, no futuro, que toda a parafernália midiática que derrubou Palocci pré-julgando suas posturas, fez emergir na ambiência política do país mais uma mulher forte, capaz de, de forma republicana, propiciar as soluções reclamadas por vastas camadas do povo brasileiro, retirando-as do permanente processo de exclusão social e conferindo-lhes o status de cidadania que as elites tradicionais sempre temem.

Não por acaso, mas para exemplificar bem, um bom contraponto de ideias de esquerda ou de direita sobre um mesmo tema, é também do Paraná o Senador Álvaro Dias, líder do PSDB (um daqueles que se beneficiou de aposentadoria esdrúxula por ter sido Governador), o qual, em emblemática declaração tucana, chama de preguiçosos os brasileiros contemplados pela bolsa-família, desconsiderando os índices de pobreza em nosso país, em boa hora alterados pelas práticas sociais implementadas no governo Lula e que, esperamos, tenham continuidade agora, contando, inclusive, com a mão firme da nova Ministra.



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