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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Priscas lembranças do Tchêco


São Paulo (SP) - Dentro de dois dias (22.07) dar-se-á o 5º. aniversário da morte de Gianfrancesco Guarnieri, que, se estivesse vivo, completaria 77 anos de vida logo em seguida (06.08). "Tchêco" era o apelido deste grande ator, autor e compositor, quando integrante do Teatro Paulista do Estudante (TPE).




Tive o privilégio de participar daquele grupo, como ator amador, juntamente, além de Guarnieri, com Oduvaldo Vianna Filho (Vianinha - 1936/1974) e Vera Gertel, que foram marido e mulher durante certo tempo. Raul Cortez (1932/2006) teve rápida passagem pelo TPE, de onde ainda saíram Milton Gonçalves, Flávio Migliaccio e outros atores de ponta. Fausto Fuser dirigiu para o TPE, com absoluto sucesso, duas peças infantis de Maria Clara Machado (1921/2001), ambas com a minha presença no papel de vilão.



O TPE estava intimamente ligado ao Teatro de Arena de São Paulo, fazendo parte indissolúvel da história deste movimento pioneiro, fundado por José Renato (1926-2011). A maioria do elenco do TPE, inclusive eu, profissionalizou-se no Teatro de Arena, que chegou a disputar, na época, a preferência do público com o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), pela excelente apresentação e montagem original de peças de renomados autores nacionais e estrangeiros.



Já como profissionais do Teatro de Arena, lembro-me bem de uma excursão que fizemos por várias cidades do interior do Estado de São Paulo, com prolongamento para Bahia (Salvador) e Minas Gerais (Belo Horizonte). Na cidade de Olímpia (SP) o elenco se dividiu e ficou hospedado em casas de família. "Tchêco" e eu fomos alojados na mesma casa. Recordo-me das caras de pau com que nos apresentávamos, no início do período vespertino, saindo direto da cama para a mesa de almoço, sem termos passado pelo café matinal... Coisas da juventude, que tudo se permite.



A temporada em Salvador (BA) superou as expectativas, posto que muitas coisas mais foram permitidas àquele grupo de jovens, diante da beleza dos passeios e das noitadas em lugares típicos, sem contar, obviamente, a ótima recepção obtida pelas encenações. A arena, que era o nosso palco, foi montada nas dependências do único hotel cinco estrelas então existente na capital baiana, onde só as moças ficaram hospedadas. Os rapazes mal se "acomodaram" numa pensão, que, das estrelas, não tinha nem a poeira.



A mesma temporada em Salvador coincidiu com o lançamento, pela extinta URSS, do primeiro satélite artificial, batizado "Sputnik". A notícia deste lançamento foi por nós recebida quando nos encontrávamos no ateliê de um artista plástico, tendo sido festivamente comemorada pelo grupo, super politizado e de tendência marxista, posição que "Tchêco" e os demais nunca esconderam de ninguém. Embora eu não comungasse dos mesmos ideais, nem por isso deixávamos de nos entender, em longos diálogos de alto nível cultural, madrugada a dentro.



No repertório de apresentações do Teatro de Arena, se inseria aquele que, sem sombra de dúvida, foi o seu maior sucesso: "Ratos e homens", de John Steinbeck, peça da qual participei, no papel de Curley, com Guarnieri no papel de George. O sucesso dessa peça bateu recordes de apresentações. Ademais de permanecer em cartaz por um longo período, foi levada à televisão no Grande Teatro Tupi.



Quando saímos de Salvador, com destino à cidade de Belo Horizonte, ocorreu um fato curioso, que se tornou, para mim, inesquecível. A viagem aconteceu num "moderno" avião Convair, bimotor, turbo-hélice, da Real Transportes Aéreos. Apesar da "modernidade" da aeronave, no meio do percurso, um dos seus motores começou a "tossir" e assim continuou pelo resto do vôo. "Tchêco" e eu estávamos sentados lado a lado e, sem disfarçar o medo, ao mesmo tempo em que tentávamos convencer, um ao outro, de que o avião chegaria ao seu destino sem maiores problema, apenas com um motor funcionado 100%, não deixávamos de colocar em dúvida os nossos conhecimentos aeronáuticos, o que fazia crescer a "paúra", para falar na língua dos nossos ancestrais.



A temporada em Belo Horizonte foi mais "comportada", própria das tradições e do estilo mineiro. No hotel não se permitia aos homens sentar à mesa para jantar sem gravata, acessório masculino que, para nós, era manga de colete (!). Dessa temporada destacou-se a impecável, porém descontraída, recepção que tivemos na casa do consagrado poeta e teatrólogo mineiro, João Etienne Filho (1918/1997). Ali, num luau como poucos, houve de tudo, com declamação de poesias, encenação de pequenos trechos teatrais e interpretações musicais.



Na volta para São Paulo, "Tchêco" e eu permanecemos em contato apenas por um curto período, antes do seu primeiro casamento, com Cecília Thompson, já que seguimos caminhos diferentes. Guarnieri prosseguiu na sua brilhante carreira teatral, escrevendo, logo depois, a antológica peça "Eles não usam black-tie", enquanto optei por voltar aos estudos, a fim de completar o curso superior, que iniciara antes de ser ator.



Quis o destino que eu também passasse a exercer a atividade jornalístico-literária, dando ensejo a esta crônica-depoimento.


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