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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Apatia do eleitor ameaça democratas


Cabo eleitoral democrata: o presidente Barack Obama, em comício no Estado de Connecticut, na noite de sábado
No maior comitê de apoio ao Partido Democrata na Califórnia, o

No maior comitê de apoio ao Partido Democrata na Califórnia, o entusiasmo que levou Barack Obama à Presidência dos EUA em 2008 desapareceu, às vésperas da eleição legislativa de amanhã, na qual o Partido Republicano, de oposição, deverá retomar a maioria da Câmara dos Deputados - e, se os cenários mais extremos de confirmarem, até mesmo no Senado.

"Agora não é tão divertido", disse Agi Kassley, chefe do comitê democrata do Vale de San Fernando, onde estudantes e voluntários já telefonaram a mais de 250 mil eleitores para convencê-los a sair de casa e votar em candidatos que apoiem as políticas do governo Obama. "Em 2008, as pessoas simplesmente apareciam animadas."
Amanhã, os eleitores americanos votarão para renovar toda a Câmara e 37 dos 100 assentos no Senado, além de escolher os governadores em 37 Estados. Os democratas estão especialmente vulneráveis porque, em 2006 e 2008, alavancados pela baixa popularidade do ex-presidente George Bush e pela campanha de Obama, o partido cresceu em regiões antes dominadas pelos republicanos.
Com a taxa de desemprego em 9,2%, o dobro da registrado antes de 2007, quando o país foi atingido por uma grave crise econômica, os candidatos republicanos procuram transformar as eleições num plebiscito sobre o governo Obama. Dizem que o pacote fiscal de estímulo de US$ 800 bilhões criado pelo governo democrata foi ineficaz para estimular a economia e colocou a dívida pública numa preocupante trajetória de crescimento. Os republicanos pregam cortes de impostos e ajuste fiscal.
Cálculos do Escritório de Orçamento do Congresso, que é apartidário, estimam que o pacote de Obama evitou um desemprego ainda maior, de até 11%. Mas a retórica dos candidatos republicanos está sendo relativamente eficaz, em parte porque a taxa de aprovação do governo Obama caiu a apenas 46%, bem abaixo do pico de 65% no começo de 2009.
A Câmara tem 435 deputados. Hoje, 60% são democratas e 40%, republicanos. As pesquisas apontam que os republicanos têm praticamente garantida a eleição de 175 deputados. Para obter a maioria, basta vencerem em 43 dos cerca de 110 distritos que estão sendo disputados de forma mais acirrada nas eleições de amanhã. O voto nos EUA é distrital, isto é, os Estados são divididos em distritos, e cada distrito elege um deputado.
Se perder, Obama terá nova chance para recuperar a maioria na Câmara em 2012, quando ele próprio deverá ser candidato à reeleição, já que os mandatos de deputados duram apenas dois anos. Até lá, porém, não terá muito espaço para avançar com sua agenda legislativa, que inclui projetos como a lei de mudanças climáticas.
"O governo Obama certamente irá sofrer várias investigações por uma Câmara de Deputados controlada pelos republicanos", afirma Robert Stern, presidente do Centro de Estudos Governamentais, de Los Angeles. "Haverá menos projetos de lei, e todos basicamente vão esperar pelo próximo presidente, seja ele o próprio Obama reeleito ou outra pessoa."
As chances de os republicanos controlarem o Senado são um pouco menores. Hoje, os democratas têm 59 senadores, contando dois independentes que votam com o partido. Os democratas tem que vencer apenas 10 dos 37 assentos em disputa para não perder o controle. As pesquisas de intenção de voto mostram liderança folgada dos democratas em seis Estados, e competições mais ou menos acirradas em outras 20 disputas.
Mesmo que consigam a maioria na Câmara e no Senado, os republicanos terão pouco espaço para avançar com sua agenda. Em tese, com uma minoria simples os republicanos teriam votos suficientes para aprovar projetos que desmontam algumas bandeiras do governo Obama, como a reforma da saúde. Mas Obama teria, de qualquer forma, o poder de veto sobre qualquer iniciativa desse tipo. Para derrubar os vetos, os republicanos precisariam de pelo menos dois terços dos votos.
Os analistas políticos têm afirmado que, mesmo com a maioria na Câmara, será muito difícil para os republicanos avançarem nos planos de redução de gastos públicos e de corte de impostos, já que o orçamento federal é muito rígido. Muitos acham que Obama, que já vem advogando a necessidade de fazer o ajuste das contas públicas no médio prazo, assim que a economia voltar a crescer, irá assumir a liderança desse debate. Há alguns meses, ele criou uma comissão interpartidária para dar sugestões sobre o tema.
Mesmo sem maioria na Câmara, Obama poderia tentar avançar a sua agenda usando instrumentos administrativos. A lei de mudanças climáticas, por exemplo, não teria chances de ser aprovada pelos deputados, mas Obama poderia usar a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) para fixar limites mais rigorosos para emissão de poluentes.
Mas são remotas as chances de aprovar uma lei de regularização de imigrantes, um compromisso de Obama com a comunidade latina em 2008, depois que republicanos mais moderados, como o ex-candidato a presidente John McCain, endureceram sua posição sobre o tema, pressionados pelo surgimento do movimento político ultraconservador Tea Party.
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