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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Força sinaliza relação mais difícil com governo Dilma


SÃO PAULO - Depois de uma lua-de-mel de quatro anos, a Força Sindical, segunda maior central sindical do país, deu mostras ontem de que sua relação com o governo federal será outra sob Dilma Rousseff. Em nota assinada pelo presidente da entidade, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, também líder do PDT na Câmara, a Força Sindical se coloca contra a ideia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de manter o reajuste do salário mínimo em R$ 540 a partir de janeiro, recompondo apenas a inflação deste ano. As centrais, de maneira geral, são contrárias ao reajuste sem ganho real, mas a Força subiu o tom na defesa de um valor maior.
"No final de seu mandato, o presidente Lula parece querer que esqueçamos que seus oito anos de governo foram direcionados para o enfrentamento das desigualdades sociais", abre a nota, que critica também os "insensíveis tecnocratas, ainda enraizados na área econômica", que "insistem em dar um pífio aumento" para o salário mínimo.
Ao final, Paulinho afirma que encaminhará, na Câmara, emendas à medida provisória do salário mínimo - que o governo deve editar até o fim da semana - elevando o salário mínimo a R$ 580 e o reajuste de 10% para os aposentados que recebem benefícios superiores ao piso. O Valorjá tinha antecipado, em 14 de outubro, que Paulinho utilizaria sua condição de deputado federal para ingressar com projetos de leis ou emendas à MP caso o governo levasse à frente a proposta de reajuste pela inflação do salário mínimo.
Ao propor reajuste de 5,5% no salário mínimo, o governo segue à risca a regra fechada entre o presidente Lula e as seis maiores centrais do país - CUT, Força, UGT, CTB, NCST e CGTB - no fim de 2006. Segundo o acordo, o reajuste anual do salário mínimo deve conter a inflação do ano anterior mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. O forte crescimento da economia em 2007 e 2008 - 6,1% e 5,2%, respectivamente - garantiu elevados reajustes em 2009 e 2010. No entanto, a queda de 0,6% registrada pelo PIB de 2009 fez com que o governo, na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2011, propusesse o reajuste apenas pela inflação.
Na nota, Paulinho assinala que a política de valorização do salário mínimo "teve forte impacto nos índices recordes de aprovação do presidente Lula". Ao propor reajuste de R$ 580, Paulinho supera inclusive os R$ 560 defendidos pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo" no sábado. Lupi, que se insere na cota do partido de Paulinho, o PDT, no ministério, foi confirmado no cargo, na semana passada, por Dilma, num gesto que foi mal recebido por dirigentes da CUT, ligada ao PT.


Criada para rivalizar com a CUT, em 1991, a Força Sindical foi a única central a apoiar o governo Fernando Collor, que vencera Lula nas eleições de 1989. Paulinho chegou a sair candidato a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes, então pelo PPS, nas eleições de 2002, e declarou publicamente apoio ao candidato Geraldo Alckmin (PSDB) na campanha de 2006. Apenas a partir de 2007, início do segundo governo Lula é que houve aproximação entre Paulinho, e consequentemente da Força Sindical, com o governo Lula. Desde 2008, quando o governo autorizou o repasse de imposto sindical às centrais - e a Força abocanhou, em 2008 e 2009, R$ 40,2 milhões, menos apenas que os R$ 50,3 milhões da CUT - o apoio de Paulinho às iniciativas do governo foi explícito.


(João Villaverde
Valor)



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