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terça-feira, 8 de março de 2011

Os irmãos mais polêmicos do rock britânico tocam hoje projetos paralelos

Os irmãos mais polêmicos do rock britânico tocam hoje projetos paralelos

Mas a rivalidade continua explosiva

Publicação: 08/03/2011 08:13 Atualização:


Noel e Liam Gallagher, nos 15 anos em que suportaram um ao outro em estúdios e turnês do Oasis, obedeceram fielmente ao cânone dos astros de rock. Emplacaram álbuns de enorme sucesso (principalmente os três primeiros), gravaram hits definitivos (e grudentos) na década de 1990 (como Wonderwall, Don’t look back in anger e Live forever) e trocaram farpas e insultos nos bastidores de shows e em declarações à imprensa. Ainda no início da carreira, em coletivas de divulgação do disco de estreia, Definitely maybe (1994), os irmãos se recusavam a dar entrevistas juntos. Anos depois, não arrefeceram.






Liam (à direita) e sua nova banda, Beady Eye, que estreia em disco com Different gear, still speeding

Pouco antes da cisão do quinteto de Manchester, em 28 de agosto de 2009, Liam (38), cinco anos mais novo que Noel (43), disse à revista NME: “Eu não gosto dele e ele não gosta de mim, é isso”. O ódio declarado provocou a saída de Noel (“Eu simplesmente não conseguiria trabalhar com Liam por mais um dia”) e o Oasis acabou de vez, no meio de um tour pela Europa.



Liam e os músicos remanescentes, os guitarristas Andy Bell e Gem Archer e o baterista Chris Sharrock, fundaram o Beady Eye logo em seguida. Na semana passada, saiu o registro de estreia, Different gear, still speeding (leia crítica). Agora é cada um por si: Liam divide a escrita das letras com Archer e Bell, enquanto Noel parece refletir sobre o fim da banda, ainda sem projetos concretos. Mas as ofensas não dão trégua.



Sempre existiu algo de incontrolável e furioso na relação dos dois. De um lado, Noel, líder e principal letrista do grupo, considerado um dos principais nomes do britpop

(rivalizando com Damon Albarn, do Blur). De outro, Liam, músico irritadiço e de língua venenosa, que passou a contribuir no repertório a partir de Standing on the shoulder of giants (2000) — o álbum representa, com o sucessor, Heathen chemistry (2002), o pior momento do Oasis. A recepção da crítica melhorou sutilmente com Don’t believe the truth (2005), que igualou as vendas de Be here now (1997), e o derradeiro Dig out your soul (2008). Se ainda há algo de comum entre os dois é o fanatismo pelo Manchester City, tradicional clube de futebol inglês.




Farpas

Semanas antes de lançar o début do Beady Eye, Liam, em conversa no site da revista Spin, acusou Noel de ter roubado criações do Oasis, quando a banda estava reunida para gravar o último disco. Noel negou. Recentemente, Liam vociferou de novo, comparando Noel ao Radiohead, que lançou seu último disco, The king of limbs, primeiro na internet, no mês passado. “Ele, provavelmente, vai seguir aquela coisa do Radiohead — aliás, já deve ter lançado. Definitivamente, já escreveu, ele está no estúdio faz eras”, disse à rádio XFM. Noel, por sua vez, negou ter começado a trabalhar em sua carreira solo.



Em entrevista ao site Thequietus.com, Liam atacou o quinteto de Oxford, fazendo menção ao título do novo disco, uma homenagem a uma árvore milenar de Wiltshire, Inglaterra. “Escutei aquela porcaria do disco do Radiohead (The king of limbs) e pensei: ‘O quê!?’ Escrever uma música sobre a p… de uma árvore? Dá um tempo! Uma árvore de mil anos? Vão se f…!”, declarou, nada comedido.



O Oasis parou em 2009, com um cancioneiro de títulos importantes do rock britânico dos anos 1990 e um histórico espinhoso. Mas as contendas de família não devem terminar tão cedo.



Crítica - ***

Renovação começa bem



Sem Noel e com um passado tempestuoso, não dá para dizer que o Beady Eye tenta repetir a sonoridade do Oasis. Aliás, Liam parece consciente disso, ao imprimir às canções poucas citações à antiga banda e preferir referências do melhor do pop britânico dos anos 1960, de Beatles a Kinks. O primeiro single, Bring the light, apresenta melodia reverente ao blues rock sessentista. Na curta balada For anyone (2:15), um lirismo simples e tributário dos primeiros LPs dos Beatles: “Eu sei que tudo vai ficar bem / Para sempre vou estar ao seu lado”. Em outra breve faixa, Three ring circus, a menção a clássicos do rock avança alguns anos e encontra a energia de Who e Stones, com as guitarras mais urgentes do CD. A canção seguinte, The beat goes on, traduz visivelmente a vontade de Liam de romper os laços que ainda o ligam ao irmão, não sem um quê de pesar: “Algum dia todo o mundo vai cantar a minha música / A vida continua”.



A banda nascida a partir do esfacelamento do Oasis carece de identidade própria, mas sinaliza para os antigos fãs que a herança musical vai custar a desaparecer. The roller (segundo single) e Kill for a dream poderiam ser, sem exageros, sobras de Definitely maybe e (What’s the story) Morning glory? (1995), os dois primeiros e melhores discos dos músicos de Manchester. Com o legado, também aparecem resquícios do ambicioso Be here now, como Wigwam e The morning son.



No refrão ingênuo de Beatles and Stones, Liam profetiza: “Vou resistir ao teste do tempo / Como Beatles e Stones”. Com Different gear, ele continua levemente arrogante, mas prova que, mesmo sem o irmão, mais talentoso, é possível seguir em frente. (FM)



DIFFERENT GEAR, STILL SPEEDING

Primeiro álbum do Beady Eye, com produção de Steve Lillywhite. Lançamento Beady Eye Records, 13 faixas. Importado. Preço médio: R$ 30.

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