Rio - Corria o ano da graça de 1980 e o autor dessas linhas, num sábado, estava substituindo o editor de Esportes do Globo, Mílton Temer, quando chegou à redação uma notícia ruim. Isabel, nossa colega da editoria de Economia, havia sido atropelada na Rua Voluntários da Pátria. Pior. Socorrida, estava internada no Hospital Getúlio Vargas e pronta para ter uma perna amputada. Eu só a conhecia de vista, quando passava por nós, com suas saias curtas. Fiquei atônito.
Será que poderia fazer alguma coisa para salvar a perna de Isabel? Foi quando me veio à cabeça o nome do médico Nova Monteiro (1919-2006), botafoguense como eu e ortopedista do clube alvinegro e colega de Lídio Toledo (1933-2011)
De repente me veio à memória o nome de meu ex-colega do Instituto São Fernando, Francisco Eduardo Nova Monteiro (1941-2000), filho de Nova Monteiro. Passei a mão no telefone e liguei para ele de imediato:
- Adu (seu apelido entre nós do colégio), onde é que encontro seu pai? É urgente... É um caso de um atropelamento de uma colega nossa aqui do Globo...
Adu não entendeu muito bem – não nos falávamos há algum tempo – mas me colocou em contato com o pai.
Mesmo sem ter grande intimidade com o famoso ortopedista, liguei imediatamente para ele e relatei o ocorrido. Para minha surpresa, ele colocou-se imediatamente à minha disposição:
- Estou saindo de casa agora e vou direto ao Getúlio Vargas...
Parece – não tenho rigorosa certeza – que Isabel já estava na mesa de operações quando Nova Monteiro chegou. Com a fama que tinha, impediu o procedimento e passou, ele mesmo a chefiar a equipe de médicos. Resultado: a perna da jovem Isabel foi salva após demorada cirurgia. E quando chegou de volta a casa, Nova Monteiro me ligou e deu a notícia. Todos nós do Globo comemoramos com aplausos.
O tempo passou – e passou rápido como sempre. Uma noite, com a perna engessada, Isabel chegou ao Bar & Restaurante Lamas, na Rua Marquês de Abrantes, acompanhada por amigos. Fiquei emocionado, deixei o tempo passar um pouco, tomei coragem e fui até a mesa dela. Ela me cumprimentou normalmente, pois era seu colega de trabalho. Foi então que tomei coragem e contei a ela o ocorrido. Ela começou a chorar e me agradecer emocionada. Daí em diante ficamos amigos, ela tirou o gesso – ficou com pequena cicatriz – e em pouco tempo estava andando normalmente. Fiquei de promover um encontro dela com Nova Monteiro, mas isso acabou não acontecendo.
Hoje, estou aqui, no Direto da Redação XFM e na ESPN Brasil. Nunca mais soube de Isabel, até porque deixei O Globo, voltei ao Jornal do Brasil e, depois, Rádio Nacional. Mas guardo bem guardada comigo a lembrança daqueles momentos de aflição e minha idéia de apelar para um grande amigo de colégio, infelizmente já falecido (ele era de 22 de fevereiro como eu e estaria agora com 70 anos). Não pensem que cometi um ato heróico. Nada disso. Apenas botei a cabeça para trabalhar a tempo de salvar, através de Nova Monteiro, a perna de Isabel. Só isso.
(*) Na foto, em minha casa em Barão de Javari (distrito de Miguel Pereira), aparecem, da esquerda para a direita, meu irmão Carlos (projetista do Engenhão), Adu Nova Monteiro, o engenheiro Luiz Carlos Albuquerque, o narrador desta história e meu também irmão e designer, Maurício Porto.
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