Bristol (EUA) - Imaginem a cena. A camareira de 32 anos, uma imigrante africana, viúva, muçulmana devota, daquelas de cobrir a cabeça, bate na porta, usa sua chave-mestra, entra na luxuosa suíte de (teoricamente) três mil dólares por noite, pergunta em voz alta se há alguém lá dentro, não ouve resposta e começa a fazer a arrumação.
Nisto, o Poderoso Chefão sai do banheiro, totalmente nu. A camareira se desculpa e ruma para a porta, mas tem seu caminho interceptado. O que se segue é uma cena não de todo desconhecida nos hotéis luxuosos pelo mundo afora, onde a gerência procura o mais possível tomar precauções para proteger as mulheres pobres que lá trabalham. Nos hotéis do Primeiro Mundo, são quase sempre imigrantes.
Os detalhes ainda vão emergir, mas a história que rola é de que a camareira conseguiu se desvencilhar num primeiro momento, depois que o Poderoso Chefão a lançou sobre a cama, e rumou outra vez para a saída. Novamente foi alcançada e nesta segunda ocasião arrastada para o banheiro, onde o estupro continuou a ocorrer.
Ao finalmente escapar da suite, a camareira corre espavorida à gerência, que chama a polícia. Quando a polícia chega e ainda está se informando do ocorrido, o Poderoso Chefão se escafede e ruma para o aeroporto, mas lá dá pela falta de seu celular.
Bem faço eu, que não ando a estuprar camareiras, mas me recuso a ter celular, ipads, ipods e outras maravilhas da tecnologia e só uso um laptop por absoluta falta de alternativas. Como me disse certa ocasião um amigo americano "everything you own, owns you". Somos escravos de nossos objetos, não o contrário.
O Poderoso Chefão telefona para o hotel (o celular devia ter segredos comprometedores) e, por causa da chamada, a polícia rastreou seu paradeiro, pilhando-o na Primeira Classe de um vôo para a França, que não tem tratado de extradição com os Estados Unidos.
Não é de surpreender que, ao fim e ao cabo, a juíza em Nova York tenha se negado a fixar fiança para o Poderoso Chefão. É claro que, se dependesse dele, estaria agora em Paris. A Justiça americana se lembra muito bem do caso de Roman Polanski, que fugiu para a França e lá viveu muitos anos sem ser incomodado, embora os Estados Unidos pedissem exaustivamente seu retorno.
Na sexta-feira teremos mais um capítulo na novela. Dominique Strauss-Kahn poderá ou não ser indicted (isto é, pronunciado), pelo Grand Jury, um Corpo de Jurados peculiar ao sistema jurídico americano e que, nesta quarta-feira, já começou a ouvir a camareira. Se for pronunciado, terá que ir ao arraignment, onde é feita formalmente a leitura da acusação a que tem de responder. Neste ato, haverá nova decisão quanto a ele ter ou não ter o direito de pagar fiança e responder ao processo em liberdade.
O Poderoso Chefão certamente alegará que se trata da palavra dele, um homem importante, contra a da camareira, uma pobre coitada. Há porém exames de DNA e outro recurso da tecnologia que poderá complicar sua vida: o das chaves com fitas magnéticas que os hotéis passaram a usar. Graças à chave do hóspede e à chave-mestra do hotel, de fitas magnéticas diferentes, os detetives esperam poder determinar, minuto a minuto, as idas e vindas dentro daquela suíte.
Uma suíte com diária de três mil dólares, num hotel francês, mas que, para franceses importantes como o Poderoso Chefão, sai na verdade por apenas oitocentos.
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