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domingo, 5 de junho de 2011

As voltas que o mundo dá



Miami - Todos sabem que o Brasil vive um enorme – e até agora quase insolúvel – problema de infraestrutura. O governo, apesar de arrecadar muito com os impostos escorchantes cobrados da população brasileira, sempre alega que faltam verbas para aplicar na reforma e construção de aeroportos, portos, estradas, sistemas de transportes intermodais, terminais etc.


Fácil entender porque faltam verbas. O dinheiro arrecadado com os impostos, que representa quase cinco meses de salário de cada trabalhador brasileiro, é usado para manuten­ção da “máquina pública”, que pode ser traduzida por pagamentos do funcionalismo, dos benefícios a aposentados e pensionistas, e com a malversação do dinheiro público, gasto com corrupção e desvio de verbas, e com as ações de “coronelismo de esquerda”, que é o programa de distribuição de dinheiro e comida aos mais necessitados. Algo que, em princípio, é louvável e humano, mas que na verdade representa uma moeda de troca eleitoral importante para manter o statu quo político do país. E ainda pregam o terrorismo eleitoral: Ou votam nos candidatos que eu indico, ou o programa será suspenso.

Agora, diante de dois eventos de envergadura mundial – a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos de Verão no Rio de Janeiro em 2016 -, a infraestrutura brasileira ficou desnudada. Não dá mais para tapar o sol com a peneira e dizer que “estamos estudando como fazer as obras”. A hora é já, e cada dia que passa sem nada ser feito representa uma eternidade nos planos para dotar o país da infraestrutura necessária para atender os eventos programados.

Diante do inevitável, o que faz o atual governo? Admite que irá privatizar os dois aeroportos de São Paulo e de Brasília. Mais ainda, admite também privatizar os do Rio de Janeiro e de outras cidades. Medida evidentemente sensata. O problema, porém, é como explicar ao eleitorado que agora a privatização é algo sério e lógico quando o partido que hoje está no poder passou o tempo todo criticando os opositores por privatizar “e dar de graça os bens do povo para capitalistas aproveitadores”.

Ah, vão alegar os incautos. Mas existe a obrigatoriedade de a Infraero ser sócia em 49% e os diretores do órgão terão poder de decisão. Todo mundo sabe que isso não passa de cortina de fumaça porque sócio minoritário pouco manda e, em pouco tempo, o sócio majoritário vai comprando mais participação na companhia até eliminar a presença do parceiro indesejável. Quanto aos técnicos do órgão, eles receberão propostas atraentes do parceiro privado e não terão problema algum de mudar de lado.

Pior ainda é o comportamento diante de tanta corrupção detectada em todas esferas de poder. Alguns justificam que os “cumpanhêro” só estão sendo pegos porque este governo tem atuado no combate à corrupção ao contrário dos antecessores. Ledo engano. Somente estão sendo pegos porque hoje a tecnologia é bem mais avançada e está bem mais fácil documentar as falcatruas.

Outros são ainda piores: “Ora, todo mundo fica indignado porque algum integrante da base aliada ou do governo foi flagrado como corrupto, sendo que isto sempre ocorreu nos outros governos, em grau ainda maior? Isso é perseguição aoPT!”.É fato. Corrupção sempre existiu mesmo, mas os eleitores teoricamente voltaram num partido que se arvorou como “diferente” e, portanto, imune à corrupção. Ou mesmo ao enriquecimento ilícito mediante ações legais porém imorais, como é o caso do (ainda) ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.

O duro mesmo é admitir que provavelmente os aeroportos deverão funcionar melhor depois de privatizados porque as empresas sabem que apenas uma boa administração pode fazer com que eles tenham mais lucros e consequentemente ganhem respeitabilidade para conquistar novos contratos, tanto no Brasil como no Exterior.

Fica, então, a sugestão de um slogan para a próxima campanha eleitoral: “As nossas privatizações são melhores do que as deles”.



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