Volta e meia andamos nós, aqui no DR, cercados por rótulos que nos nomeiam como esquerdistas ou direitistas. Alguns rejeitam tais caracterizações, julgando-as anacrônicas, irreais ou inadequadas. Eu não. Considero-me realmente uma pessoa de esquerda, assim entendida aquela que está mais interessada nas causas populares do que nos privilégios de elite, aquela que enxerga o social como um vetor bem mais importante que o individual. Para mim – e não me importa aqui o maior ou menor rigor científico desta conceituação –, ser “de esquerda” é preocupar-se com os mais fracos e privilegiar os valores do coletivo.
Para isso , não julgo necessário um vínculo a qualquer partido político, até porque vivemos em um país onde as agremiações partidárias, com raríssimas exceções, não apresentam um rosto ideológico, e, pelo contrário, ostentam máscaras fisiológicas, quando não dissimuladas e traiçoeiras. Algumas até têm uma elogiável carta de princípios , mas, ou não conseguem colocá-los em prática ou têm uma linha programática de fachada, apenas para ser recitada demagogicamente às vésperas das eleições.
Essa absoluta indefinição ideológica, agravada pela absurda multiplicidade de partidos, é que me faz pensar que o chamado “voto de lista” talvez seja um jeito de dar um formato ideológico aos grupos partidários, apurando o cenário político nacional e fixando identidades claras. Mas essa não é matéria para agora, merecendo, certamente, um próximo artigo.
O assunto aqui é o Código Florestal e o processo de votação que aprovou algumas barbaridades, entre elas a impunidade que se pretende atribuir aos que desmataram as nossas florestas, em flagrante crime ambiental.
É estarrecedor que a nossa Câmara Federal possua, em maioria, legisladores “ruralistas”, um eufemismo que esconde, no geral, aqueles que fazem da terra e dos homens objetos de exploração gananciosa. Alguém dirá que tais parlamentares, se estão lá, é porque lá foram colocados pelo povo. Sim, isso é verdade. Mas também é verdade que a maioria deles não mostra a sua verdadeira cara no momento da eleição, escondendo sua faceta retrógrada em campanhas em que o poder econômico se sobrepõe à clareza política.
Os brasileiros não são a favor do desmatamento, mas os seus “representantes” são... Os brasileiros não são a favor da impunidade, mas os que legislam em seu nome são...
A total falta de identidade dos nossos partidos – capitaneada por essa aberração política que se esconde na sigla PMDB – permite que se agrupe o pior debaixo do rótulo de “representantes do povo”. Momentos como esse, da votação do Código Florestal, apenas confirmam isso.
E há outras consequências decorrentes dessa falta de identidade, que permite a instituição de chantagens dos mais diversos tipos, em nome de uma governabilidade que, lamentavelmente, depende dessas forças espúrias e fisiológicas. O deputado Garotinho exemplifica bem essa prática ao explicitar, sem meias palavras, a vinculação dos votos “evangélicos” que livrariam Palocci de uma investigação à retirada, pelo governo, de uma cartilha contra a homofobia.
Sobre esse assunto , antecipo minha posição. Acho que, independentemente do fato de ser ou não culpado, Palocci deve afastar-se do Ministério, enquanto se apuram os fatos que o envolvem, porque a sua presença junto ao Planalto não ajuda o projeto político do governo Dilma e, pelo contrário, atrapalha, até por permitir que se montem esses processos chantagistas, isso para não falar do oportunismo do partido midiático de oposição...
Voltando ao Código Florestal, é fácil perceber aonde podem chegar os interesses dos “ruralistas”. A luta no campo atinge, hoje, requintes de violência extrema, redundando em ações que passam por assassinatos e devastações e que , estranhamente, contam com o beneplácito de um sistema judicial que nada apura. Esse processo de impunidade não pode continuar e o governo Dilma tem obrigação de atacar o problema como uma de suas maiores prioridades. A mim não satisfaz a declaração oficial de que não é possível ao Governo garantir a vida das centenas de brasileiros ameaçados por essa gente.
Quanto à votação do Congresso, está na hora de pressionar-se o Senado no sentido de que ponha abaixo as vergonhosas decisões da Câmara. Voltando ao conceito com que início este texto, considero tais decisões “de extrema direita”, porque não atendem aos interesses populares e privilegiam os endinheirados e exploradores do meio rural, alguns deles patrocinadores de mortes de índios, religiosos, ribeirinhos e ativistas defensores do ambiente. As forças do verdadeiro pensamento de esquerda, não importando aqui vinculações partidárias, não podem se omitir. Cada vez mais, assistindo a episódios desse tipo no campo político, penso que , enquanto não tivermos um sistema eleitoral confiável, é preciso que as forças vivas da nação se movimentem para propugnar pela execução de plebiscitos, todas as vezes que os verdadeiros interesse do povo estiverem em jogo. O que é, também, assunto para reflexão...
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