A noticia explodiu esta semana na mídia estadunidense: um premiado jornalista, que ganhou o Pulitzer, principal prêmio do jornalismo americano, pela cobertura do massacre na Universidade Virginia Tech, veio a público e revelou um segredo guardado há quase quinze anos: “Sou um imigrante ilegal”.
Jose Antonio Vargas (parece nome hispânico, mas ele é de origem filipina) declarou que é igual aos milhões de imigrantes que vivem nos EUA sem documentos. E desabafou: “Estou cansado, não quero mais essa vida”. Aproveitou para pedir perdão a seus antigos empregadores por mentir todos esses anos permanecendo e trabalhando no país ilegalmente.
A história de Vargas (30 anos) tem lances comoventes. Quando tinha 12 anos, sua mãe o enviou para a Califórnia para viver com os avós. Ele não sabia nada sobre imigração e só veio a saber quando chegou aos 16 anos e foi requerer a carteira de motorista. O funcionário que o atendeu, depois de examinar seu greencard (cartão de residência para estrangeiros), disse: “isso é falso, não volte aqui novamente”. Até que o funcionário foi bonzinho com ele. Outro poderia tê-lo entregue à polícia.
Só então Vargas soube que seu avô, pensando ajudá-lo, comprou documentos falsos. Naquele momento ele se perguntou como poderia conviver com uma situação como essa, de alto risco?
Aqui cabe uma explicação. Usar número de documento falso nos Estados Unidos é crime muito grave, punido com extremo rigor. Apesar disso, sempre se ouviu falar que é difícil, mas não impossível, conseguir-se um falso número de Social Security, documento sem o qual você não existe para o governo americano. Não se sabe se eles ainda atuam, mas no passado recente existiam os “papeleiros”, gente especializada em fraudar documentos para legalizar imigrantes.
Mas voltando ao nosso herói, Vargas não se intimidou com o risco que correu no departamento que emite carteiras de motorista. Bom aluno, ele concluiu o ensino médio e foi aceito na San Francisco State University com bolsa de estudos.
Depois de formado, Vargas passou por situações difíceis na busca de estágios e empregos. Ora era aceito, ora recusado, por falta de documentos. Mas acabou chegando a um dos templos do jornalismo estadunidense, o Washington Post, aquele que denunciou o escândalo de Watergate, que redundou na renúncia do presidente Nixon. E foi lá que Vargas conquistou o cobiçado prêmio Pulitzer.
Graças ao seu talento e à sua determinação, Vargas chegou ao spot light do mercado de trabalho, ao contrário de milhões de outros imigrantes indocumentados, inclusive filipinos, que vivem à sombra da sociedade estadunidense, explorados por patrões inescrupulosos, muitas vezes seus próprios compatriotas.
O que se questiona agora é o que vai acontecer com Vargas, o homem que simplesmente desmoralizou e mostrou como é vulnerável o sistema migratório do país.
Ao pé da letra, ele teria que ser preso e processado pelo uso de documentos falsos, mas quem terá peito para fazer isso num país onde os políticos usam a questão migratória para conseguir votos? Além disso, para punir Vargas, as autoridades teriam que punir toda a cadeia de seus benfeitores, pessoas e empresas jornalisticas, que lhe deram a oportunidade de trabalhar e mostrar que ele é bom no que faz.
Por sua vez, Vargas declarou que tirou um peso das costas e agora vai pressionar o Congresso pela aprovação do Dream Act (Development, Relief and Education for Alien Minors), que dará a milhares de jovens que chegaram cedo aos EUA, como ele, o direito de se tornarem cidadãos, desde que se formem em universidades americanas ou servam nas forças armadas. Mas o projeto empacou no Capitólio, por conta das divergências entre os partidos políticos.
A bela história de Vargas pode ser o ponto de partida para a prometida reforma migratória, prioridade de Obama quando candidato.
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