Mais do que qualquer novela em horário nobre da TV brasileira, mais do que BBBs e Fazendas da vida, o julgamento de Casey Anthony, a jovem mãe acusada de matar a própria filha de 2 anos, já virou líder de audiência nos Estados Unidos.
Não há quem não comente os depoimentos das dezenas de testemunhas (mais de 70 até agora) ouvidas no palco jurídico deste verdadeiro reality show que tem câmeras estrategicamente espalhadas pela sala do julgamento mostrando a reação dos envolvidos no evento, desde o juiz até a ré, passando evidentemente pelas testemunhas que são as personagens chave desse intrincado processo de homicídio. É proibido apenas mostrar os jurados.
Para quem não acompanhou o caso desde o início vale a pena fazer um rápido resumo. Casey Anthony, mãe solteira que morava com os pais e a filha Caylee, em Orlando, na Florida, depois de passar 31 dias sumida com a filha, apareceu em 16 de julho de 2008 dizendo que uma babá tinha sequestrado Caylee.
A partir daí o caso, cheio de contradições, polêmicas e mentiras, passou a ser alvo de grande atenção da mídia e opinião pública americanas, pois Casey fora desmascarada pela polícia que descobriu que a tal babá nunca havia existido .
Com base em indícios de que a mãe seria a principal suspeita do sumiço da menina, ela está presa desde outubro de 2008, sem direito à fiança. A Corte, que tem sessão todos os dias, menos aos domingos, entrou nesta quarta-feira em seu trigésimo-segundo dia. E não tem previsão para acabar.
Desde o início, o julgamento de Casey tem sido transmitido em rede nacional, por um canal da CNN e outro jurídico. Começa pontualmente às nove da manhã e vai até às cinco da tarde, apenas com intervalo para almoço. Aos sábados, as seções são feitas só na parte da manhã.
A promotoria do Estado da Flórida pede que Casey Anthony, agora com 25 anos, trabalha com o objetivo de condená-la à morte. Ela é acusada de ter drogado Caylee, de 2 anos, e depois sufocado a menina com fita adesiva sobre a boca e o nariz dela.
O corpo da garotinha foi encontrado seis meses depois num bosque perto da casa da família, onde ela morava, por um funcionário da companhia de água da região. Segundo a tese dos promotores, Casey teria jogado o corpo em decomposição da filha ali depois de circular por vários dias com ele na mala do carro.
Já a defesa tem outra versão. Alega que Caylee morreu afogada acidentalmente na piscina da casa da família e que Casey não reportou a morte da filha por medo e que teria sido ajudada pelo próprio pai, George, que se prontificou a esconder o corpo da criança.
Diante disso, dá para imaginar o que vem acontecendo no tribunal. Testemunhos de técnicos, investigadores particulares, cientistas, policiais, peritos, amigos e ex-namorados da ré. Os familiares , pai, mãe e irmão, são o principal alvo da defesa que tenta dividir entre eles a responsabilidade pelo desaparecimento da garotoinha, e os três entram em tantas contradições, que muita gente os considera suspeitos.
O interesse pelo final dessa novela da vida real é tanto, que centenas de pessoas passam horas e horas na fila na porta do tribunal em Orlando, para disputar a tapa os poucos ingressos para acompanhar o julgamento ao vivo, dentro da Corte.
Com tantos depoimentos contraditórios, Casey, que era franca favorita à pena de morte, já divide opiniões. Há os que se mantêm firmes na certeza de que ela é a assassina, enquanto outros já admitem que ela seria apenas uma vítima de abusos sexuais cometidos na infância pelo próprio pai e pelo irmão mais velho. Como se vê, a história tem ingredientes fantásticos e cresce no interesse popular na medida em que os depoimentos se sucedem, muitos baseados em mentiras e dissimulações.
Caso Casey seja condenada pelo assassinato da filha, ela deve pegar a pena máxima, a morte por injeção letal. Um final trágico para uma jovem de apenas 25 anos. No fundo, apesar da revolta contra o possível ato abominável da mãe, muita gente torce para que na hora H alguma voz se levante e diga que ela é inocente. E assim, o verdadeiro reality show caminha para o final. Tem gente que se confessa viciada em se sentar todos os dias diante da TV para acompanhar o drama da moça que matou a própria filha, segundo todas as evidências. Um show que expõe as fraquezas dos seres humanos, fragilizados e cheios de medo e inseguranças na hora em que sentam para depor.
Ali ninguém vai sair ganhando um milhão por ter vencido. No show da vida do tribunal em Orlando, não há lugar para vencedores. Há apenas uma perdedora, a garotinha chamada Caylee, assassinada aos 2 anos de idade , sem saber porquê.
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