Publicado em 31/07/2011
A inconfidência de Oldemário
Oldemário Vieira Touguinhó (1934-2002) e Marcos Alexandre Mello Matos de Castro – nome gigantesco, não? – foram os responsáveis diretos pela minha contratação pelo Jornal do Brasil, no distantérrimo ano de 1963. Fui amigo de Oldemário e reconheço em Marcos de Castro o meu professor na escrita jornalística. Explico: como estava no terceiro ano da Faculdade Nacional de Direito (lado a lado com Eliakim Araújo), meus textos eram, digamos assim, meio jurídicos. E Marcos, com uma paciência incrível, me ajudou a progredir até que virei redator da editoria de esportes do jornal – ainda na época da velha sede da Avenida Rio Branco.
Repórter de extrema sensibilidade, Oldemário (foto) também me ajudou muito ao longo de minha carreira, não apenas na Avenida Rio Branco como na faraônica sede da Avenida Brasil. Certa vez, às vésperas de um Natal, ele passou por mim na redação e me perguntou baixinho:
- Como é que está você em matéria de dinheiro para o Natal?
Não tive tempo de responder. Ele meteu em meu bolso 200 cruzeiros como uma espécie de presente. Oldemário era assim: dadivoso e imprevisível.
Na Taça Brasil de 1963, na final Botafogo x Santos, é que vem a história da inconfidência. No primeiro jogo, no Pacaembu, numa quarta-feira à noite, o Santos de Pelé venceu por 4 a 3, numa partida brilhante das duas equipes. No domingo, no Maracanã, o Botafogo ganhou por 3 a 1, forçando uma decisão extra ainda no Rio. Para o Botafogo foi uma tragédia em 20 atos e nenhuma apoteose, com diria meu amigo Nélson Rodrigues (1912-1980), pois Pelé e Coutinho comandaram uma goleada de 5 a 0. Como botafoguense convicto (jamais escondi isso), deixei o Maracanã liquidado. E fiquei estarrecido com o que ouvi de Oldemário, outro torcedor fanático do Botafogo, no dia seguinte no jornal.
Oldemário me contou – estávamos sós – que na véspera da partida final, foi até o Hotel das Paineiras – onde o Santos estava concentrado – e explicou ao técnico Lula, do Santos, como era o esquema de jogo do Botafogo. Ora, bolas: se Oldemário era alvinegro como eu, porque entregar ao técnico adversário o jeito de jogar do Botafogo? Fiquei surpreso, ou melhor, literalmente abestalhado. Para piorar as coisas, o lateral-esquerdo do Botafogo, Ivan (nada a ver com o jogador do América), que travou um duelo terrível com Dorval, morreu afogado na Barra logo após a derrota.
Hoje, tantos anos passados, consegui entender Oldemário. Ele era mais Pelé do que Botafogo. Sua amizade com o Rei do Futebol superava tudo. Até mesmo seu clube do coração. Aliás, assistindo ao jogo no Maracanã, não vi nada demais no que chamo de inconfidência de Oldemário. Ele, Oldemário, não podia prever que Manga iria mandar tirar a barreira num chutaço de Pepe, quando o Santos fez 2 a 0 ainda no primeiro tempo. Aí, sim, assisti ao Santos se fechar na defesa e jogar apenas nos contra-ataques. E houve um duelo desigual entre a dupla Pelé-Coutinho e a zaga improvisada do Botafogo, formada por Nílton Santos e Jadir (ex-Flamengo). Mas tenha sido útil ou não, acho que Oldemário não devia ter feito o que fez. Não precisava. O Santos era, realmente, o melhor time do Brasil e mereceu o título.
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