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quarta-feira, 13 de julho de 2011

O Brasil no seu pior futebol Ruim copa do Brasil


Recife (PE) - Não, não se trata do que vimos em campo contra as seleções do Paraguai e da Venezuela, nem do que virá, quando esta coluna for lida, já veio, contra a seleção do Equador.


Trata-se do que lemos por estúpida credulidade, pois a estupidez é um hábito, todos os dias nos jornais sobre as partidas de futebol. Notem que os artigos conseguem ser ruins, ou péssimos, contra todas as vantagens de que dispõem antes mesmo da leitura. Isso porque o público adora futebol, assiste a futebol, perde o pouco que tem com futebol, morre e mata por futebol. Ou seja, o jornalista que fala sobre o campo esportivo já entra ganhando de cem a zero contra o pobre redator que comenta os efeitos da teoria das cordas no campo da ciência.

E no entanto, o que vemos, por força do velho hábito que se tornou a nossa natureza? - Relatos burocráticos, de livro de boletim de ocorrência de escrivão de polícia, quando não nos deparamos com textinhos bobos, de piadas de matar de rir pela falta de graça. Os mais criativos mostram uma forma primitiva de humor, aquele do trocadilho, como neste título: “Sem Pato e Ganso, Brasil pena”. Os colegas da redação devem achar brilhante.

Por exemplo, no dia seguinte ao jogo contra a seleção do Paraguai, a Folha de São Paulo publicou:

“Um gol de Fred a um minuto do fim evitou a primeira derrota do Brasil na Copa América. O empate com o Paraguai deixou a seleção em situação difícil no Grupo B do torneio, com dois pontos. A Venezuela lidera a chave com quatro pontos. Para que dependa apenas de si para avançar, o Brasil precisa vencer o Equador, na quarta”.

Ora, os que viram o jogo, dez em cada dez brasileiros, dispensam ser informados do que já sabem. E quem não viu a seleção, talvez por se encontrar em um plantão de sala de cirurgia, jamais saberá do que houve por semelhante descrição. No geral, pode-se dizer que os enviados dos jornais enchem linguiça, preenchem linhas e mais linhas com o mais óbvio, a saber: o resultado da partida, a escalação do time, quem fez o gol e a posição da equipe na tabela.

Hoje, quem quiser ler alguma análise de mais substância sobre a seleção do Brasil, que vá ler os jornais da Espanha. Sério. Sobre a partida contra o Paraguai, nada se aproximou do publicado no El País, Clique aqui Nele se escreveu, muito antes de toda imprensa brasileira, antes até de quaisquer aspas de declaração, que para Lúcio jogar com Daniel Alves é um tormento. E mais: enquanto os nossos jornais contavam o número de passes errados de Ganso, El País apontava, com mais precisão, os passes dele que fizeram surgir os gols, pois Ganso “tiene una habilidad única en los espacios cortos, una zurda exquisita para leer el juego y, sobre todo, como los buenos, facilidad para tocar de primeras. Movimiento lento; fútbol de vértigo”.

Por que o jornalista esportivo na Espanha leu o jogo que os repórteres brasileiros nem viram? Simples, lá o jornalista esportivo, antes de ser "esportivo", é jornalista. Lê, lê e escreve. Que vergonha, não pelo nosso futebol, mas pelo que se escreve hoje sobre futebol no Brasil.

Os nossos textos esportivos estão a uma distância além da que vai do Brasil à Europa. Há neles uma excelência perdida, como neste maravilhoso Nelson Rodrigues, que assim escreveu, quando Pelé sequer havia sido convocado para a copa de 1958:

“Examino a ficha de Pelé e tomo um susto: — dezessete anos! Há certas idades que são aberrantes, inverossímeis. Uma delas é a de Pelé. Eu, com mais de quarenta, custo a crer que alguém possa ter dezessete anos, jamais. Pois bem: — verdadeiro garoto, o meu personagem anda em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Dir-se-ia um rei, não sei se Lear, se imperador Jones, se etíope. Racionalmente perfeito, do seu peito parecem pender mantos invisíveis. Em suma: — Ponham-no em qualquer rancho e sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor....

Na Suécia, ele não tremerá de ninguém. Há de olhar os húngaros, os ingleses, os russos de alto a baixo. Não se inferiorizará diante de ninguém. E é dessa atitude viril e mesmo insolente que precisamos. Sim, amigos: — aposto minha cabeça como Pelé vai achar todos os nossos adversários uns pernas-de-pau.”

Que coisa bonita e profética, não? Por isso digo ao fim, já que não podemos mais ter um Nelson Rodrigues na imprensa: vejam o jogo e leiam o que sobre ele se escreve na Espanha.

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