Publicado em 10/04/2011
Repórter se esconde em armário da CBD
Na Era de Ouro do grande Jornal do Brasil – entre 1950 e 1970 – a editoria de esportes era rigorosamente imbatível. Por lá passaram, entre outros, Fernando Horácio, Sérgio Noronha, Marcos de Castro, Oldemário Touguinhó, Dácio ‘Malandro’ de Almeida, José ‘Moderno’ Inácio Werneck, Alcimar ‘Pau de Arara’ Rocha, Sandro Moreyra, João Máximo, Moacir Japiassu e o insuperável colunista Armando Nogueira. Não conto essas histórias por ouvir contar: conto porque modestamente estava lá entre eles. E havia também Victor Garcia (basquete e vôlei), Délio Bueno (iatismo) e Yllen Kerr (caça Submarina). É aí que começa a novela da semana.
Veteranos de guerras passadas no jornalismo pátrio, Apolônio Barbosa cobria CBD e Arthur Parahyba Dias, Federação Carioca. Parahyba, embora tranquilo, sempre chegava tarde à redação e cabia a mim copidescá-lo. Já Apolônio era guerreiro raivoso. Se não trouxesse uma bomba da CBD, lá na Rua da Alfândega, ficava meio acabrunhado e era gozado principalmente por Sérgio Noronha (que até compôs uma musiquinha irônica para ele). Mas Apolônio não se abatia. No dia seguinte lá estava ele na CBD à cata de uma mutreta ou de uma notícia bomba.
É óbvio ululante que a turma da CBD tinha receio dele. Às escondidas, tramavam notícias que seriam manchete. O que fez Apolônio Barbosa? Fez o rigorosamente improvável. Chegou mais cedo à CBD e escondeu-se – vejam que audácia – em um armário de aço, quase vazio, onde seria realizada uma reunião importante. E lá, apertado como uma sardinha em lata, foi anotando tudo. De repente, um imprevisto. O dirigente Medrado Dias – ligado ao Vasco da Gama – lembrou-se de um detalhe e ao abrir a porta do armário de aço deu de cara com Apolônio.
Foi um alvoroço. Medrado queria aplicar um corretivo em Apolônio, Apolônio queixou-se de que estava sendo boicotado e Medrado, sabendo que Apolônio pertencia ao time do Jornal do Brasil, baixou a guarda porque percebeu que seria um escândalo de proporções gigantescas virar notícia como agressor de um repórter de um grande jornal. Por fim, como se esperava, ficou tudo como dantes no quartel de abrantes. A reunião foi encerrada e Apolônio apareceu furibundo no JB.
A fim de evitar novos e perigosos confrontos, a editoria de esportes do JB mexeu no time: Apolônio foi para a Federação Carioca e Parahyba, para a CBF.
Infelizmente o tempo passou e ambos já se foram. Mas para mim, iniciando a carreira, ficou a lição: para se conseguir uma notícia vale tudo.
http://feeds.feedburner.com/RadioXfm989Sp-br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
www.xfm.com.br