Sabor de Mar (28)

Pedro Braun foi libertado uma semana depois, juntamente com Sérgio Cabral, seu colega no Pasquim. Os militares convenceram-se de que Pedro não era um conspirador ou guerrilheiro urbano, mas um elitista que tinha horror ao que considerava ignorância e modos grosseiros de nossas Forças Armadas. Numa surpreendente demonstração de coragem, ou falta de bom senso, chegara a tratar coronéis e outros oficiais com quem se deparara na prisão com indisfarçável desprezo, deixando claro que os considerava um bando de botocudos, indignos de dialogar com um intelectual de seu quilate.

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A saída de Pedro e Sérgio Cabral da prisão foi comemorada com um jantar movido a muito uísque e vinho no Antonio`s, o restaurante da avenida Bartolomeu Mitre, onde eles eram figuras mais ou menos constantes, além do cronista José Carlos de Oliveira, Chico Buarque, Nana Caymi, Rubem Braga (este menos frequentemente), Tarso de Castro e Ronald de Chevalier - uma espécie de aspone do poderoso Walter Clark, da TV Globo -, conhecido pelo apelido de Roniquito e famoso por provocar brigas no Mau Cheiro, no Bar Luiz, no Zepelin, no Castelinho, no Jangadeiros e, sobretudo, no próprio Antonio`s, onde reza a lenda que jamais pagou um uísque, embora os consumisse em abundância. Certa vez, apresentado a uma autoridade do governo, um calheiro de cabelos brancos que se identificou como "ministro Nascimento e Silva", Roniquito perguntou-lhe:

- Esquina com a Montenegro?

Aquela era também uma noite cheia de irreverência, muita bebida e contas que, sabia Manolo, o proprietário espanhol, ficariam penduradas por muito tempo, talvez para sempre. Alberto Nestor comparecera, na condição de amigo de Pedro e correligionário. Foi uma noite em que Maria Eduarda, que pouco aparecia no Antonio`s, por considerar o local cheio de parlapatões, e desgostava sobretudo de Tarso de Castro, por achá-lo o maior de todos, estava especialmente bonita.

Foi ali também que Maria Eduarda pela primeira vez em sua vida sentiu-se atraída por um homem não por seus dotes físicos, pois Pedro não os tinha, ou o charme de sua personalidade. Pedro podia ser insolente, chegava a humilhar inferiores. Mas ela sentiu-se dominada pela força de sua inteligência.
O sentimento não passou despercebido a Alberto

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