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domingo, 17 de julho de 2011

Clima pesado no Correio da Manhã


Rio – Tenho quase certeza de que já abordei aqui, no Direto da Redação, fatos ocorridos no Correio da Manhã, da Avenida Gomes Freire, vizinha da TV-E (hoje TV-Brasil) e do famigerado DOPS da época da ditadura militar. Mas não toquei no assunto dos conflitos surgidos na redação do velho Correio da Manhã, que teve seus dias de glória, com Niomar Moniz Sodré, e que foi obrigado a fechar as portas por fazer oposição aos militares. Em pouco tempo, porém, os irmãos Alencar – Marcello, Maurício e Mário – apoiados financeiramente pelos empreiteiros, tomaram conta do periódico, alugando o título e estabelecendo uma nova política jornalística.

Pouco tempo depois, os Alencar – ainda escudados pelos empreiteiros – também tomaram conta da Última Hora, fundada por Samuel Wainer (1910-1980) e igualmente empastelada pelo golpe militar. Até aí, nada demais. Ocorre que os Alencar, obviamente por razões financeiras, passaram a exigir dos funcionários do Correio da Manhã matérias com cópias em papel carbono (ainda vivia-se a época das máquinas de escrever). Em poucas e resumidas palavras, como diria meu amigo Nélson Rodrigues (1912-1980), os jornalistas do Correio da Manhã escreviam para dois jornais e só recebiam por um. O clima ficou pesado na redação conjunta.

Surgiram desentendimentos – até mesmo confrontos físicos. Muitos periodistas queriam garantir o emprego, mesmo que explorados. Outros, não. Exigiam um duplo salário ou, pelo menos, uma compensação em dinheiro. O fato é que a indisciplina tomou conta da redação. Eu mesmo, que trabalhava na editoria de esportes do Correio da Manhã, tive que separar alguns desforços físicos, valendo-me de minha altura e disposição física. Mas a situação agravou-se e os Alencar foram obrigados a contratar seguranças do Serviço Nacional de Informações (SNI), que, de paletó e gravata, iam anotando os nomes dos insatisfeitos para, depois, remetê-los ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social).

Para minha surpresa, eu, que nada tinha a ver com os conflitos – a não ser evitá-los – fui intimado a comparecer ao DOPS para depor. Para minha mais completa surpresa, o interrogatório foi de um extremo ridículo. Fui interrogado – imaginem só – sobre as possíveis relações entre uma secretária (bela secretária, diga-se a bem da verdade) com jornalistas do Correio da Manhã e Última Hora. Logo eu, que, nas horas vagas, fazia em casa a revisão dos textos da Voz Operária – jornal de tendências quase comunistas. Disse quase porque a Voz Operária jamais usava o termo comunista. Por sinal, era esse o meu receio, tantos eram os dedos-duros na redação.

Livre do interrogatório – que quase me levou às gargalhadas – tratei de me demitir do Correio da Manhã e me tornar exclusivo funcionário da Bloch Editores. Mas mesmo assim não escapei. Por causa de edições carnavalescas de Fatos & Fotos, fui intimado a comparecer duas vezes à Polícia Federal, na Rua Senador Dantas. A Polícia Federal achava que as edições de Fatos & Fotos eram extremamente libertinas, com mulheres quase peladas estampadas em várias páginas de revista. Felizmente, fui apenas admoestado.

Mas devo um preito de gratidão ao escritor Macedo Miranda, autor de O Sol Escuro. Enquanto Dops e Polícia Federal me caçavam, Macedo usava meus documentos originais, enquanto eu ficava com as fotocópias. Nunca pude agradecê-lo por me proteger. Mas fica aqui o registro de um homem íntegro, solidário e meu amigo número um.


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