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domingo, 17 de julho de 2011

Festival de Cinema de Locarno

Desta vez, o Festival de Locarno vai ser também um festival de stars. Além de ser uma plataforma para o cinema independente de todo mundo, inclusive os emergentes, Locarno abriu também um espaço para filmes com elencos de prestígio, nas projeções para a Piazza Grande, com seu telão com cerca de 300 m2.


Assim, estão previstas as presenças de Claudia Cardinale, Harrison Ford, Leslie Caron, Ingrid Caven, Aki Kaurismaki, Kabir Bedi, Guy Bedos, Abel Ferrara, Mike Medavoy, Bruno Ganz, Adoor Gopalakrishnan, Olivia Wilde, Claude Goretta, Hitoshi Matsumoto, Kati Outinen, Nicolas Winding Refn, Daniel Craig, Pierre Richard, Maribel Verdú, Anri Sala et Daniel Brühl.

Mas como nem tudo pode ser perfeito, não há longas-metragens brasileiros nas competições. Ao fechar a seleção, Olivier Père, diretor do Festival, afirma que alguns filmes não seriam terminados antes de agosto, enquanto aqueles que foram vistos não respondiam aos critérios e expectativas do Festival.

Porém, dois curtas concorrem na Seção Leopardos de Amanhã, são – Mens Sana in Corpore Sano, de Juliano Dornelles, com duração de 22 minutos; e Praça Walt Disney, de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, com 21 minutos.

Da América Latina, só filmes da Argentina e do Chile. O problema do cinema brasileiro continua sendo a televisão, que contrata os melhores cineastas para as telenovelas ou dos cineastas que, sob a pressão comercial, fazem filmes mais adaptados para a televisão.

Como fizera o Festival de Berlim, haverá uma homenagem ao cineasta iraniano Jafar Panahi, cumprindo prisão de 6 anos, por ter criticado o governo iraniano e proibido de fazer novos filmes durante 20 anos. Locarno projetará o filme Espelho, segundo longa-metragem de Panahi, premiado com o Leopardo de Ouro, no Festival de Locarno de 1997.

O Festival de Locarno dedicará uma grande retrospectiva ao cineasta americano Vincente Minelli, mestre da comédia musical e do melodrama hollywoodiano, com a projeção de todos os seus filmes. Leslie Caron, a inesquecível atriz de Um Americano em Paris e Lili,apresentará seu livro autobiográfico Uma Francesa em Hollywood.



FALA O DIRETOR FESTIVAL

“Este ano tivemos de renunciar a mostrar filmes brasileiros porque ou não estavam prontos ou os que foram vistos pelo comitê de seleção não foram escolhidos”. Olivier Père, diretor do Festival de Locarno.

Segundo o presidente do Festival de Locarno, Marco Solari, circula um rumor no mundo dos festivais que o diretor do Festival de Veneza, Marco Mueller, ao chegar em alguns países para obter filmes tem uma surpresa - « Olivier Père já passou antes por aqui », lhe dizem.

Ao que parece, o novo diretor do Festival de Locarno é muito ativo e tem conseguido atrair para Locarno produtores e cineastas que preferiam outros festivais. Ao que parece, esta edição do 64. Festival de Locarno, vai ser das melhores, tanto na Piazza Grande, onde haverá o cinema entretenimento, como nas salas diversas dedicadas ao cinema independente e ao cinema de autor.

O francês Olivier Père, ex-diretor da Semana da Crítica, no Festival de Cannes, entra no segundo ano como diretor-artístico do Festival de Locarno e no encontro com a imprensa, em Berna, no qual anunciou os filmes programados, deu uma entrevista para o Direto da Redação.



DR - Como assume esse seu segundo ano, na direção do Festival de Locarno ?

O primeiro ano foi de aprendizem e de experiência, no qual aprendi muita coisa, mesmo se eu já havia refletido sobre minha visão do Festival e sobre as modificações que gostaria de trazer. Este ano vai ser o da confirmação e de reafirmação de objetivos e de ambição, que são certamente realizados este ano, porque pudemos refletir no que se poderia melhorar o Festival em comparação com o ano precedente, com o conteúdo mais rico em consequência das reformas feitas na competição, nas seções e na redução do número de filmes, e com a presença de grandes filmes, grandes autores e grandes stars.

DR - Foi muito difícil a programação ?

Não porque este ano foi muito rico na produção de filmes e também no cinema independente, isso no que se refere a todas as regiões, asiática, americana, européia e, igualmente, porque nos beneficiamos da boa reação da imprensa, extremamente positiva, quando do festival do ano passado, criando curiosidade, interesse e desejo na imprensa, mas igualmente entre os profissionais, cineastas, atores, produtores e distribuidores para virem pela primeira vez ao Festival, tornando mais fácil convencê-los. Criou-se assim uma relação de confiança facilitando a aceitação de nosso convite para virem participar.

DR- Não há filme brasileiro na competição, qual o motivo ?

É verdade, no ano passado havia até um filme na competição mas este ano tivemos de renunciar a mostrar filmes brasileiros porque ou não estavam prontos ou os vistos pelo comitê de seleção não foram escolhidos. É isso, isso depende de cada ano e este ano não foi favorável ao cinema brasileiro.

DR - Ou será que Marco Mueller, de Veneza, passou antes pelo Brasil?

Pode ser, porém ele viu os mesmos filmes que nós. Não sei se há filmes em outros festivais, mas houve filmes brasileiros em Cannes.

DR - Ou será pela má influência da televisão como se diz...

É verdade, muitos produtores, observadores e cineastas se queixam da má influência da televisão brasileira sobre o cinema, não só no plano da produção como da estética. E é verdade que os financiadores estão mais propensos a financiar filmes comerciais pra a televisão do que apoiar o cinema de autor, o que é lamentável.

DR - E na América Latina o que temos, só a Argentina ?

Não, há também o Chile, um filme de Sebastian Lelio, que é dos jovens cineastas chilenos. Da Argentina, há diversas coproduções, como Abrir Puertas y Ventanas, de Milagros Mumenthaler, feito com a Suíça, e na seção Cineastas do Presente, o filme El Estudiante, um muito bom primeiro filme de Santiago Mitre.

DR - Podemos, então dizer que o cinema argentino é melhor que o brasileiro ?

Não, depende de cada ano, deve-se notar que também este ano não há nenhum filme mexicano. Existe uma certa constância no cinema argentino mas não é uma obrigação. No ano passado, por exemplo, não havia filme argentino na competição e desta vez há dois, depende...

DR - E, na língua portuguesa, temos no júri um produtor português...

É verdade, o presidente do júri é o produtor português Paulo Branco e há um curta-metragem português na competição Cineastas do Presente, É na Terra não é na Lua, de Gonçalo Tocha.

Paulo Branco é um grande produtor, um aventureiro da produção, quase uma personagem mítica, que já foi premiado em Locarno, alguém que tem feito muito pelo cinema independente europeu e pelo cinema de autor, relançando, por exemplo, a carreira do cineasta Manoel de Oliveira, de Raul Ruiz e de diversos cineastas franceses e que está produzindo no Canadá o filme de David Cronenberg.

Quanto ao cinema português considero um dos mais belos da Europa, onde existe um viveiro de jovens cineastas talentosos, de Miguel Gomes a João Pedro Rodrigues, e é também um cinema muito poético. Um cinema de observação do mundo com um olhar bastante poético sobre a vida, o que faz sua força, que lhe dá algumas vezes uma dimensão filosófica e metafísca, como em Oliveira e Monteiro.

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