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domingo, 10 de julho de 2011

Pena de morte em dois tempos

O sempre polêmico tema da pena de morte frequentou a mídia esta semana nos Estados Unidos em situações absolutamente opostas.


No primeiro caso, que alcançou repercussão nunca vista em termos de cobertura televisiva, Casey Anthony, uma jovem mãe de apenas 25 anos, foi absolvida da acusação de ter matado a filha de dois anos, em Orlando, na Flórida, quando todas, rigorosamente todas, as evidências indicavam que ela seria condenada à pena capital (mãe e filha na foto de arquivo).

A surpreendente decisão do juri popular resultou numa das mais agressivas reações de quase toda a mídia contra Casey, que se prolonga até hoje e, pelo visto, vai seguir cada vez mais furiosa até domingo que vem, quando ela deixar a prisão onde passou os últimos três anos. Apresentadoras de programas jurídico/policiais da CNN e do canal de Justiça insuflam abertamente as pessoas a não permitirem que a moça saia às ruas. Só não pregam seu linchamento porque sabem que terão que enfrentar as consequências, mas não lhes falta vontade.

Enquanto apresentadores pregavam o ódio a Casey, a equipe de defesa comemorava uma vitória quase impossível. Bem comparando, eu diria que foi como se uma equipe de várzea do interior, dessas bem chinfrim, derrotasse a seleção espanhola campeã do mundo. Ou, uma chance em mil.

No meio da comemoração, o principal advogado de defesa, Jose Baez, de origem hispânica, condenou a pena de morte nos Estados Unidos, considerando inconcebível que o país “continue matando seus próprios cidadãos”. Mais adiante, disse que quando chegasse em casa naquela noite, sua filha lhe perguntaria:

- O que você fez hoje no trabalho, papai?

- Eu vou dizer a ela simplesmente “salvei uma vida”.

O outro caso aconteceu no Texas, o Estado que mais aplica a pena de morte nos EUA. Na quinta-feira, o mexicano Humberto Leal, de 38 anos, tomou uma dose de injeção letal e apagou para sempre. De nada adiantaram apelos do presidente Obama e de organizações internacionais, não que Humberto merecesse tratamento especial, enquanto condenado, mas sim porque executaram um cidadão estrangeiro.

De fato, Humberto, apesar de morar nos EUA desde os dois anos de idade, não era legalizado. E ele, que em 1994, quando tinha 21 anos, estuprou e matou uma garota de 16, foi executado sem lhe darem a chance de recorrer a uma Corte internacional, como teria direito por ser um cidadão estrangeiro. Como Humberto, há outros 51 mexicanos na mesma situação no Texas, estrangeiros condenados à morte.



A Suprema Corte, por 5 a 4, manteve a ordem de execução, recusando o apelo da Casa Branca. Para Obama, executar um estrangeiro significa violar uma convenção internacional. E mostrou preocupação com o que pode acontecer com cidadãos americanos que cometam crimes no exterior.



O governador do Texas, Rick Perry, potencial candidato à presidência, que pertence a ala mais radical do Partido Republicano, aquela que prega linha duríssima contra os imigrantes indocumentados, mostrou-se quem é ao justificar a execução:

“Aqui no Texas, não tem essa de convenção internacional. Cometeu o crime aqui, vai ser executado aqui, pode ser estrangeiro ou não”.

Já imaginaram esse homem na presidência dos Estados Unidos?


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