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domingo, 3 de julho de 2011

Jornalista ou publicitário?


Rio – Em meio à década de 80 consegui acumular três trabalhos importantes: editor de esportes da Tribuna da Imprensa, à Rua do Lavradio; comentarista esportivo da Rádio Nacional, na Praça Mauá; e integrante dos debates esportivos (aos domingos) da TV-E (hoje TV Brasil), à Avenida Gomes Freire, bem diante do prédio abandonado do velho e vitorioso Correio da Manhã. Mas, confesso, minha maior alegria era retornar à Rádio Nacional, da qual me demitira antes para aceitar o convite do amigo José Inácio Werneck para ser subeditor da Revista Viva, que pertencia ao Jornal do Brasil, já em sua sede faraônica na Avenida Brasil, 500.


Na Rádio Nacional – pela qual viajei por boa parte do Brasil – logo percebi que havia um espaço ocioso entre o final do Programa César de Alencar (1917-1990), já inteiramente decadente, e o início das transmissões esportivas aos domingos. Foi então que bolei uma atração de uma hora de duração, à qual dei o nome de Gol de Placa. Mas o que era o Gol de Placa? Simplesmente baseado no excelente arquivo sonoro da emissora, revivia gols que entraram para a história do futebol carioca e brasileiro, com narrações que remontavam à Copa do Mundo de 1950.

Para que o novo programa não ficasse monótono, sempre chamava um convidado para debater comigo os resultados das partidas, enquanto os gols iam sendo colocados no ar. E mais: encarreguei minha mulher Ada Regina (1951-2010) de escolher as músicas que entremeavam os debates. Era um sufoco. Deixávamos eu e ela a redação da Tribuna – na qual Ada Regina era diagramadora – e partíamos, após o fechamento da edição da Tribuna da Imprensa, para a Praça Mauá. Normalmente, às sextas-feiras, saíamos dos estúdios da Rádio Nacional por volta de uma hora da manhã.

Quando o Gol de Placa começou a fazer sucesso, fui procurado por dois elementos integrantes do esporte da Rádio Nacional. Prefiro não declinar os nomes dos dois figurantes, por questões de ética profissional, porque ambos estão ainda em ação, não mais na Rádio Nacional, mas trabalhando em outros locais. Eles simplesmente queriam que eu arranjasse um patrocinador para o programa. Argumentei que não era publicitário e que aquela era uma tarefa exclusiva para o departamento de anunciantes da emissora e não para um jornalista.

A gravação semanal do Gol de Placa virou um inferno – para mim e para Ada Regina, que, mesmo sem ganhar um tostão, trabalhava com gosto e empenho. Eu, também, nada recebia por aquela função extra, a não ser o meu modesto salário de locutor (e não de comentarista) como a Rádio Nacional me registrara. E faço questão de frisar que não me incomodava com isso. Minha satisfação era colocar no ar um programa bolado por mim, já que pela cabeça de ninguém nunca havia passado a idéia de aproveitar o excelente e histórico arquivo fonográfico da Rádio Nacional.

O resultado não poderia ser outro. Após meses e meses de trabalho estafante e de não obter anunciantes para o Gol de Placa – jamais entendi de publicidade – fui sumariamente demitido pelas duas bisonhas figuras. Tempos depois, o repórter Valdir Luiz, inteligente e ouvinte do programa, reviveu o Gol de Placa com outro nome. Mas aí a Rádio Nacional já não era a mesma. Fora amplamente superada pelas rádios Globo e Tupi, a primeira com José Carlos Araújo, a segunda com Luiz Penido.

Vida que segue, como diria o excelente João Saldanha (1917-1990).



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